Comunicação Social > Carlos Anjos da Associação dos Funcionários de Investigação da PJ

Correio da Manhã -17.09.2010

Carlos Cruz e a RTP

Por: Carlos Anjos, Conselheiro da ASFIC -Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal  PJ

 

"Na ressaca do caso Casa Pia, o país assistiu à tentativa de um arguido de tentar ganhar na opinião pública o caso que perdera em tribunal. Carlos Cruz, hábil profissional de comunicação, tinha uma estratégia clara: ocupar o espaço mediático no período pós-decisão.

Assim, se esta lhe fosse favorável vitimizava-se acusando todos aqueles que o haviam perseguido. Se fosse condenado, usaria esse espaço para difundir os seus argumentos, criticando o acórdão e levando as pessoas a ter pena dele e a duvidarem da decisão, ao mesmo tempo que impedindo que se comentasse a sua culpabilidade. Deu uma conferência de imprensa, foi a todos os telejornais e conseguiu uma entrevista no maior semanário nacional. Lógico que tudo isto estava tratado. Contou para isso com a benevolência, o corporativismo dos seus antigos colegas, principalmente da RTP, que o levaram a todos os programas de informação.

Nunca um condenado teve tal tratamento. A RTP deve no futuro dar o mesmo espaço a todos os condenados, criando assim um outro tribunal; o da opinião pública. Ou então não se livra do estigma do corporativismo neste caso. Cruz quis ganhar na secretaria o jogo que havia perdido no campo, e a RTP concedeu-lhe os meios para que o fizesse. Parece que a coisa não correu bem, já que de tudo ficou apenas a condenação. É que o povo não é parvo."

 

O meu Comentário:

1- Tenho admiração e respeito pelo sr. Carlos Anjos nomeadamente quando defende e muito bem que as peças do inquérito deveriam ser mostradas em Julgamento

2- Não lhe reconheço no entanto qualidades de bruxo e adivinhar a minha estratégia nomeadamente estabelecendo até dois cenários possíveis: condenado ou absolvido. A minha estratégia é só uma: demonstrar a minha inocência por todos os meios legais já que é a única verdade.

3- Mente quando diz que estava tudo tratado: não pedi nenhuma entrevista e todas me foram pedidas pela RTP e pela SIC antes da sentença e tendo-me sido dito que me queriam entrevistar qualquer que fosse a sentença.

4- Acho lamentável que utilize a mesma expressão da Drª Catalina quando usa a imagem de ganhar "na Secretaria". Atribui portanto ao Tribunal da Relação a qualidade de uma mera Secretaria o que me parece pouco digno para Juízes desembargadores.

5- Esquece que nunca nenhum arguido teve o tratamento que eu tive durante oito anos na Comunicação Social em que as notícias apareciam sempre com a minha cara como se eu fosse o único arguido do Processo Casa Pia. Nasceu assim o Processo Carlos Cruz.

6- Concordo inteiramente com a afirmação de que "o povo não é parvo". Mas é o Povo e não o povo.

7- Dei uma conferência de Imprensa para não me sujeitar às cenas ridículas de responder a um verdadeiro circo de jornalistas à porta da Tribunal porque a rua não é o sítio ideal para dar entrevistas colectivas sobre assunto de tamanha importância.

8- Agradeço e epíteto de hábil profissional de comunicação. Ainda bem que sou já que poderei explicar às pessoas normais a monstruosidade deste Processo.

9-      Sublinho que estou a lutar com pessoas muito hábeis em contra-informação que utilizam fontes da investigação para manipularem a opinião pública no sentido da minha condenação, desde 2003. Ao usar o termo corporativismo esquece-se que no melhor pano cai a nódoa: o seu artigo é também, se quisermos uma mera atitude que transforma a sua Associação Sindical numa Corporação. Não acredito que o sr. Carlos Anjos alinhe nesse exército.

10-  Percebo a tentativa da defesa de uma investigação que, no meu caso, foi completamente inexistente e imprópria de uma Polícia Judiciária de alta qualidade mas onde não pode ignorar que existem elementos que em nada prestigiam a imagem de uma das melhores polícias do mundo.

11-  Parece que ignora que é dentro da PJ, se se informar, exactamente onde existe nos sectores mais profissionais uma enorme dúvida e mal estar sobre este caso

12-  Se a coisa correu bem ou não só o Povo o poderá dizer e não quem se arvore abusivamente em seu porta-voz.

13-  Continuarei a dar as entrevistas que me pedirem.

14-  Imitando a sua qualidade de vidente sempre direi que o futuro ainda tem muito para dizer sobre o Processo Casa Pia e que o meu site continuará a ser uma montra digna, transparente, objectiva e dirigida à inteligência e racionalidade de todos os que julgam com justiça e sem preconceitos.

15-  Continuarei a admirá-lo enquanto escrever a favor de uma melhor Justiça mas gostaria que lutasse também por uma melhor investigação. Ou, como no meu caso, uma mera investigação.

16-  Como não confundo a fruta podre com um cesto de fruta, acredito que a PJ continuará o seu notável trabalho na investigação criminal no nosso país.