Comunicação Social > Dias André acusa Carlucci - no jornal i

O Sr. Dias André deu uma longa entrevista ao jornal "I" no passado dia 4. Merece ser lida com atenção. É um retrato muito fiel da capacidade profissional e do carácter de quem esteve à frente da Brigada que investigou o Processo Judicial mais mediático e mais longo da Justiça Portuguesa. Aqui publico, em duas partes, a minha análise, depois de a ler várias vezes e de me dar tempo para afastar o calor e o riso provocados pela primeira leitura. Ficou apenas o raciocínio e a estupefacção. Esta é a 1ª parte.

 

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A palavra conjuração (do latim conjurare, "jurar junto") pode ser interpretado de vários modos: como se fosse uma prece ou evocação; ou como um ato de ilusionismo.

O Sr. Dias André "jura" que o resultado daquilo que diz que investigou é verdade - faz parte de um grupo de "conjuradores", que nada sabem, que nada viram, mas que juram a pés juntos que é tudo verdade. Mas o problema, e muito grave, é que este senhor devia ser responsabilizado pelo cargo que ocupou e com o qual se viu na posição e com o poder de destruir a minha carreira, o meu nome, a minha família e o meu património.  A não ser que também andasse a tomar os comprimidos de Carlos Silvino.

Inventa, conclui, especula e mente. Sem qualquer prova ou sequer ressonância - mas "jura" que existem milhares de vítimas, que existiam várias redes a operar em Portugal, que existem filmes e fotografias, que várias pessoas sabiam do que se estaria a passar, nomeadamente funcionários e educadores da instituição, etc.

Pergunto: sabendo tanto, porque não denuncia nem denunciou?

Oito anos depois da minha prisão, Dias André vem explicar que não conseguiu reunir provas porque às vezes nem dinheiro havia para ir ao Alentejo investigar. A gente lê isto e fica paralisado de "espantação". A conclusão é dele: não conseguiu reunir provas. E isto admite-se num Estado que se quer de Direito. O chefe da investigação diz:"não consegui reunir provas" e dão-me uma pena de 7 anos de prisão!

Um processo que mudou a vida política e social de um país e que, na prática, tem  contornos de um autêntico golpe de estado por antecipação, que teve todas as atenções de Portugal, afinal não foi bem investigado, não há provas, porque não havia dinheiro sequer para ir ao Alentejo?! É dito pelo sr Dias André que chefiou a Brigada. A ser verdade é Vergonhoso. Mas explica por exemplo o Auto de Reconhecimento do dia 8 de Janeiro de 2003 que pode ler aqui no site. (clicar aqui)

Diz na entrevista o sr. Dias André: há algumas ideias em França, na Suíça, contactos, enfim... e afirma  que até pagava do bolso dele para ir lá buscá-los [filmes]..., mas esqueceu-se de dizer que graças ao seu talento, e fazendo grandes economias, conseguiu muito boas pistas que o levaram pelo menos a Massamá. E que até teve tempo para andar em escavações em Pina Manique. Mas nada  conseguiu encontrar. Ora vejamos:

Um mês após Teresa Costa Macedo ter criado a ideia de "Rede de Gente Famosa", na SIC a 28 de Novembro de 2002, Pedro Namora cria outro conceito: "Rede Internacional que inclui a emissão de Bilhetes de Identificação falsos" em entrevista concedida ao DN a 3 de Janeiro de 2003 - as duas principais testemunhas já haviam prestado declarações na Policia Judiciária onde denunciavam a Rede de Gente Famosa.

 

 

Ora, 3 dias depois, a 6 de Janeiro de 2003, Francisco Guerra volta a depor. Desta vez afirma ainda que alguns rapazes da Casa Pia viajaram de avião para o estrangeiro.

Diz que iam à Madeira, Espanha e França e que para esse efeito falsificavam Bilhetes de Identidade (!!). Afirma  que iam levar filmes e fotografias para o mercado internacional.

Francisco Guerra identifica o falsificador dos B.I.'s e até  fornece uma morada: o falsificador seria um Dr. Marques da Silva que vivia na Rua Manuel de Campos Pereira em Massamá. "Sabe a morada porque foi lá duas ou três vezes, durante este "processo", para entregar dinheiro ao Marques Silva."

E o "faro" apurado de Dias André levou-o em busca do falsificador, com morada e tudo, e com o Francisco Guerra. Só que nunca conseguiu encontrar tal pessoa, nem a referida casa, nem mesmo com o endereço. No decorrer do julgamento descobre-se que afinal, quem vivia muito perto da morada fornecida era a grande amiga de Francisco Guerra, a Neidi Bruno por quem tinha uma paixão.

 

Este tipo de situações repete-se vezes sem conta no processo Casa Pia: notícias que saem nos jornais e que depois aparecem retratadas no processo como sendo verdade, embora a equipa de investigação não tenha conseguido encontrar qualquer prova, vestígio ou testemunha. Cria uma realidade virtual que agora justifica não ter sido descoberta por... falta de meios!!

Francisco Guerra chega a ter alguma graça: é um mitómano criativo e salta de situação para situação com a facilidade de quem bebe um copo de água. Acho que ele é que começa a acreditar naquilo que diz. O seu (?) livro, aliás é  uma manifestação mental que merece ser analisada. E sê-lo-á. Com documentos.

Francisco Guerra inventou umas fotografias e uns filmes e deu o nome de quem revelava os rolos, o nome da pessoa (inexistente) a quem as teria dado para guardar. Depois  junta a isso tudo uma espécie de Auto de Fé a queimar essas fotografias e papeis de Carlos Silvino. As cinzas lá estariam um ano depois (versão Catalina Pestana). Mas Guerra  com as suas fotografias e filmes conseguiu um feito que não está ao alcance de qualquer cidadão: conseguiu pôr a PJ  a fazer escavações na Casa Pia:

 

No Tribunal:

Rosa Mota -Realizámos uma busca ao sótão de um dos lares, realizámos uma busca num espaço de um dos colégios, andámos lá a cavar qualquer coisa.

Advogada -A cavar?

Rosa Mota -A cavar, se não foi a cavar, foi uma coisa ...(imperceptível...)

Advogada -Cava, cavar?

Rosa Mota -Se não foi assim, foi uma coisa idêntica, Sr.ª Doutora, eu não estava lá.

Advogada -Pronto, sim.

Rosa Mota -À procura de coisas, no local ... num local externo...

Advogada -Que estariam enterradas, é isso?

Rosa Mota -Que estariam enterrados.

Advogada -Relacionado com quê, lembra-se? No caso concreto.

Rosa Mota -Com umas fotografias, uns documentos, pertencentes ao Sr. Carlos Silvino.

Advogada -Encontraram alguma coisa?

Rosa Mota -Que teriam sido posteriormente queimados.

Advogada -Encontraram alguma coisa?

Rosa Mota -Sr.ª Doutora, que teriam sido queimados, posteriormente teriam sido queimados.

 

O leitor percebe?  elas existem... eu juro... estão aqui...é só cavar... cavar mais um pouco...., mais um pouquinho... já cavaram tudo?...  Ahhhh esqueci-me de dizer: não estão aí porque foram queimadas!!

Mais tarde, em Julgamento, Francisco Guerra diz que deu as fotografias à PJ. Dias André, com tristeza possivelmente, teve que negar.

Lembro-me que após a minha prisão tanto o Director Nacional da Policia Judiciária como o Procurador-Geral da Republica disseram aos Portugueses para ficarem descansados que tinham sido colocados todos os meios à disposição da Brigada (nomeadamente uma equipa de 10 elementos da Policia Judiciária em exclusivo e 3 procuradores do Ministério Publico). Recolheram-se milhares de documentos bancários, milhões de números e registos telefónicos, de Vias Verdes e outros. Nenhuma relação entre arguidos, ou entre testemunhas e arguidos, etc, foi  descoberta ou provada! Nem em código! A imporealidade virtual teve que ser construida. Depois de tanto alarido não se podia perder a face.

O Sr. Dias André é um personagem curioso e, ele sim, merecedor do epíteto de personagem da Ópera Bufa a que a Drª Catalina Pestana se refere. Não sei é se chegará a ser Ópera.

Um ex-polícia dizer que não existe extradição do Brasil para Portugal só revela ignorância. Um motorista pode dizer isso. Um PJ não devia. Meu caro senhor: só não há extradição... de cidadãos brasileiros.

Relembrando o título da notícia "O Silvino pode fugir. Podem ter-lhe prometido um sítio seguro para viver no Brasil": não se deve confundir Dias André com Policia Judiciária. O primeiro inventa e especula, o segundo prova. O primeiro jura, o segundo demonstra.

As posições da Policia Judiciária em relação à investigação deste processo ficaram explícitas na carta que dirigiram à Procuradoria Geral.

O sr Dias André será objecto de análise (embora merecesse mais psicanálise) quando eu publicar aqui a dissecação da Investigação.

Esta entrevista dele ao jornal "I" revela bem a sua (im)competência como polícia e como cidadão que não consegue cooperar com a salvaguarda da sociedade.  Na entrevista que dá ao "I" diz coisas hilariantes à luz de uma análise comportamental de um homem que chegou tão alto na hierarquia de uma das melhores polícias do mundo. Hilariantes mas falsas e por isso terá que ir a Tribunal prová-las. Se for preciso ir ao Alentejo, eu pago-lhe a viagem.

 

Vai ter que provar:

1- Que eu ia a fugir para o Brasil

2- Que eu tinha comprado uma casa no Brasil

3- Que eu paguei ou encomendei o trabalho jornalístico de Carlos Tomás (a entrevista a Carlos Silvino ou qualquer outro)

Mesmo que eu perca a acção (porque hoje sei como funciona o sistema), vai dar-me gozo ver o sr Dias André a ficar muito encarnado e furioso). Isto, no que me diz respeito.

O sr Dias André, ao longo do Processo, toma uma série de atitudes e leva a PJ a acções, escrevendo informações que começam normalmente por: "segundo informação anónima", "chegou-nos a informação de que", "sabemos que", "telefonema não identificado informou-nos que". Estas são as pedras e os alicerces do seu trabalho: sem provas, lança-se a ideia da informação anónima. Foi o caso da minha "fuga para o Brasil": tudo começa com uma informação anónima. Depois juntou-lhe a velocidade a que eu fui na Auto Estrada. E as pessoas vão na conversa: Claro, se ia tão depressa é porque ia a fugir! Ainda não entenderam que este tipo de gente, se eu fosse a uma velocidade normal ou até mais lenta diria que eu ia a disfarçar a fuga indo devagarinho? E mais: o Processo está repleto de informações anónimas escritas. Houve investigação?

O sr Dias André mente quando diz que o Dr. José Maria Martins esteve sempre presente nos reconhecimentos. É mentira. Foram feitos 8 reconhecimentos com Carlos Silvino. Sempre com Dias André. Apenas em dois esteve presente o Dr. José Maria Martins (av Forças Armadas e Elvas). Está escrito e  bem explícito nos autos que Carlos Silvino teria dispensado a presença do advogado nos outros 6. (Clique para ver) Carlos Silvino não nega a presença de José Maria Martins no reconhecimento de Elvas. Nunca diz isso na entrevista. Chega a acrescentar que nesse reconhecimento foi José Maria Martins e Dias André que lhe disseram para indicar aquela casa que ele, Carlos Silvino, nunca tinha visto.

Este senhor mentiu ao povo português quando disse na TVI que os rapazes fizeram desenhos pormenorizados de todas as casas - está denunciado e provado neste site (em Vídeos- "Vídeos Oficiais do Tribunal, no final da página)

Mentiu no Tribunal quando disse que os Inspectores usaram procedimentos e as regras dum Manual da APAV para interrogar as vítimas - como mostrarei em em breve no site.

 Acusa o Dr. Artur Pereira de me proteger. Nunca tinha visto o Dr Artur Pereira, não o conheço. Só o vi  no Tribunal, nunca tive qualquer contacto com ele. Limitou-se a pôr a nu a total ausência de provas para me prenderem a mim e aos outros arguidos da "matança" de 31 de Janeiro (Dr. Ferreira Dinis e Dr. Hugo Marçal). O que levou Adelino Salvado a alertar Souto Moura - clique para relembrar a carta já aqui publicada.

Sobre a minha fuga o Sr Dias André escreveu, no mesmo dia, duas informações, que se encontram no Processo, nas quais aponta diferentes horas da minha saída de casa; como responsável máximo pela investigação (depois de Rosa Mota) não explica (porque não pode) o que se passou no dia 8 de Janeiro de 2003 no dia do alegado único reconhecimento feito a casas antes das prisões.

A entrevista de André vem na sequência de uma outra dada pelo mesmo ex-inspector ao mesmo jornal e à mesma Jornalista, cujo título era "Alguém pagou pela entrevista quando soube o nome da juíza da Relação".

Porquê sr. Dias André? Saberá o senhor Dias André alguma coisa que nós demais mortais não saibamos sobre a referida Juíza? Parece-me que Sr. Dias André tenta pressionar a Juíza Desembargadora Guilhermina Freitas. Ao dizer que é uma pessoa vertical está a querer dizer que ela proferirá um Acórdão que coincida com os seus pontos de vista  porque o sr Dias André é vertical?

Quero que recordar mais dois pontos das declarações deste cidadão:

- a acusação que faz de que Carlucci fornecia vistos para crianças irem para os Estados Unidos. Seria no mínimo curioso ter uma reacção de Carlucci e a resposta de Dias André.  Porque é que não denunciou? E se o fez o que é que aconteceu? Com quem?

- e a afirmação de abusos em seminários, Casa do Gaiato e Colégios Militares que não investigou...terá sido por falta de verba?

Ninguém diz nada: o Governo, os Partidos, a PJ, os Sindicatos da PJ e MP, o PGR, a Assembleia da República, o Presidente da República? Falta de verba para investigar abusos? Ou está tudo a dormir de consciência tranquila com esta sentença? Afinal que país é este? Que tinha camaleões sabia, desde 25 de Abril de 1974... mas tanta Avestruz?

A entrevista do sr. Dias André é longa. Hoje fico por aqui. Mas publicarei um segundo comentário. Sempre apoiado em documentos do Processo. Não especulo: PROVO!

Finalmente: à medida que ia lendo a entrevista veio-me à memória o génio de Mestre Almada Negreiros , com quem tive o privilégio de conviver  e falar (ele falava, eu bebia as suas palavras), na sua Quinta de Bicesse. Veio-me à memória o seu  Manifesto Anti-DANTAS. Para quem quiser divertir-se um bocado leia-o e substitua os personagens por quem quiser. Dá para muita gente que conhecemos. Basta clicar aqui.