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Entrevista concedida ao programa Alta Definição (SIC) - dia 24 de Julho de 2010.


Video realizado por ocasião do meu 50º aniversário por amigos e familiares em Março 1992 e projectado num jantar que me ofereceram acompanhado de várias intervenções: Rui Romano, Herman José, Fialho Gouveia, Raul Solnado e eu próprio.

 

Percurso

Nasci a 24 de Março de 1942 na pequena aldeia de Parceiros de São João perto de Torres Novas. Sou o mais novo de 7 irmãos. Hoje somos apenas 4: eu, Arlindo, José e Celeste.

Após a 2ª Guerra Mundial, o meu pai decidiu deixar Portugal e por isso fomos para Angola onde já se encontravam os meus dois irmãos mais velhos.

A bordo do "Lourenço Marques" a caminho de Angola.

Eu sou o do sobretudo. Atrás de mim o meu irmão Arlindo.


Na infância, já em Luanda.


Em Luanda estudei no Colégio Padre António Vieira e no Liceu Salvador Correia. 

Em Outubro de 1956, aos 14 anos, estreei-me na rádio, no mesmo ano em que perdi o meu pai.

 

Estreia

A minha estreia foi acidental. Para assistir a um jogo, voluntariei-me para ajudar no transporte e montagem do material técnico da Emissora Católica de Angola. A meio da partida, Rui Romano, que estva a fazer o relato, passou-me o microfone, achando que também eu fazia relatos. Fui contratado.

Em reportagem no Estádio Nacional


Fui relator desportivo e produtor de programas desportivos na Emissora Católica de Angola.

Alguns meses depois, transferi-me para o Rádio Clube de Angola e em 1959 voltei à Católica de onde saí em Setembro desse mesmo ano para viajar para Portugal e continuar os meus estudos por nnão haver Universidae em Angola.

 

Anos 60

Frequentei o 1º ano de Engenharia Electrotécnica no Instituto Superior Técnico de Lisboa entre 1959 e 1961. Não terminei o curso. Um desentendimento com um professor sobre uma nota injusta num teste. Perante a injustiça fechei-lhe a porta na cara e nunca mais entrei no IST.

Em 1961, participei num concurso da Emissora Nacional  para relator desportivo. Fiquei em 1º lugar e fui admitido. Passei a fazer equipa com Artur Agostinho e Nuno Brás.

Fui Produtor de Programas Desportivos na Emissora Nacional para Onda Média e Onda Curta, entre 1964 e 1966. 

Desde cedo quis experimentar televisão. Em Abril de 1962, tive essa oportunidade. Um concurso para locurores da RTP. Fiquei em 1º lugar entre 30 candidatos. Mas fiquei apenas como "colaborador" durante seis anos. Só entrei para o quadro em 1968. Havia cunhas para outro. O meu programa de estreia da RTP foi o Teledesporto mas uma semana antes estreei-me em televisão apresentando TV Motor, um programa do Joquim Filipe Nogueira.

Com Artur Anselmo


Em 1963 comecei a trabalhar em projectos fora do âmbito desportivo. Fui autor, produtor e apresentador de Discorama, Semibreve e Disco e D'Aquilo, produzido juntamente com Luis Villas Boas e Dinis de Abreu.

Ainda no inicio de carreira, em 1964 recebi o "Microfone de Ouro" por votação popular, seguido de vários outros prêmios ao longo dos anos para a rádio e televisão.

Capa da Revista Plateia anunciando a vitória no Microfone de Ouro


Na rádio, estive na Rádio Renascença e no Rádio Clube Português onde apresentei e realizei alguns programas, como o Talismã, Clube das Donas de Casa, 23ª Hora e Tempo Zip.

O meu primeiro casamento, com a Lizete.


Nesses anos colaborei com o Record.

      

 

Em 1969, apresentei, produzi e fui co-autor juntamente com o Raul Solnado e o Fialho Gouveia,  um dos programas que mais destaque teve na televisão portuguesa: o Zip Zip.   

 

Anos 70

Em 1970, na seqüência do programa "Zip-Zip, criei as "Organizações Zip" com o  Solnado e o Fialho Gouveia.Esta empresa dedicava-se à rádio (Tempo Zip) e à edição de discos (Discos Zip), revelando novos autores e intérpretes da música portuguesa. Estreou logo com um sucesso enorme: A Pedra Filosofal por Manuel Freire. Ganhámos um Festival da canção (Menina, com Tonicha) e ficámos em segundo lugar num outro (Canção de Madrugar, com Hugo MAia de Loureiro).

Com Domenico Madugno, cantor italiano do famoso "Volare".


Daí passei para outra empresa, Arnaldo Trindade, sediada no Porto e que tinha além dum enorme catálogo internacional, a sua pprópria marca Orfeu que faz parte da história da música portuguesa. Representava grandes nomes  como: Zeca Afonso, Adriano e Correia de Oliveira. Aí se estreeou Jorge Palma e, depois, muitos outros enriqueceram o seu catálogo. Aí trabalhei muito com o José Niza.

Criei com Francisco Santos uem Agência de Publicidade (GTP) e uma editora (Decibel). Editei com ele a revista Máquina.

Saí do Arnaldo Trindade e abandonei as outras actividade para regressar à RTP em Setembro (de onde tinha pedido a demissão 8 dias antes do 25 de Abril) como Adjunto do Director de Informação (Álvaro Guerra)

Em 1966, Adamo entrevistado e a cantar em directo. 23ª Hora (Rádio Renascença)


Em finais de 1974, fui convidado para Conselheiro de Imprensa da Missão Portuguesa Junto das Nações Unidas em Nova Iorque.

Em 1975, viajei para os Estados Unidos durante quatro anos e meio. Intervim nos trabalhos da Comissão do Espaço Exterior da ONU. Negociei  a criação do Centro de Informação das Nações Unidas em Lisboa contra a candidatura da Espanha (Madrid) e ganhámos. Ainda antes de ir para Nova Iorque, fui membro da equipa da Eurovisão que negociou com a Intervisão (conjunto dos países de Leste) a troca de notícias entre as televisões europeias.

A minha estadia em Nova Iorque foi interompida durante 9 meses para exercer (interinamente a meu pedido)  o cargo de Director de Programas da RTP (1976).  Em 1979 voltei de vez para Portugal e para a RTP onde vim a exercer os cargos de Director Coordenador do Canal 1 e Director de Programas (RTP 1 e 2)

Com Amália Rodrigues. Programa"E o Resto São Cantigas"

 

Anos 80

Jornal Sete, "Carlos Vivinho da Cruz", algures nos anos 80.


Com os anos 80, veio o conhecido programa de televisão "1,2,3" e o famoso "Pão com Manteiga" na rádio, do qual resultou uma revista e três livros. Ainda na Rádio Comercial realizei a apresentei os progremas Duplex, Contrataque e Uma Vez por Semana.

Equipa do Pão com Manteiga: Mário Zambujal, Eduarda Ferreira, A. Couto e Santos,José Duarte, Bernardo Brito e Cunha e Joaquim Furtado. Eu, ao meio, sentado.


Quanto ao "1,2,3" fizemos 7 temporadas (uma delas apresenatada pelo António Sala), e embora na altura vivêssemos com apenas dois canais de televisão em Portugal, chegamos a atingir 85% da audiência (share) nas duas primeiras séries.

   

 

Tive uma pequena experiêcia no cinema: actor no filme "Vidas" de Cunha Telles. Fui director da revista Mais.

Nos ensaios dos "Jogos sem Fronteiras" na praça de touros de Cascais


Anos 90

Nos anos 90, criei a produtora CCA (Carlos Cruz Audiovisuais). Produzi e  vários programas ( e aprresentei alguns) : Sexualidades, 1,2,3, Zona +, Senadores, Carlos Cruz Quarta feira, Ideias com História, Isto Só Vídeo, Palavra Puxa Palavra, Preço Certo, Febre do Dinheiro, Nico d'Obra, Arca de Noé, A Pirâmide, Golo Golo Golo, Roberto Leal, Sozinhos em Casa, Inocente Inocente, Marina Marina, Nós os Ricos, Meu Querido Avô e outros. Adaptei para Porrtuigal a série Sim, Sr. Ministro do original Yes Minister.(BBC)

 

Cheguei a produzir 11 programas semanais ao mesmo tempo. Entretanto  tive alguns problemas de saúde: um cancro numa corda vocal (em 1993) e um princípio de enfarte (em 1994) que me levou a efectuar uma intervenção cirúrgica para colocação de quatro bypasses.

Aventurei-me no teatro sendo co-autor de dois musicais: "Enfim Sós" e "Quem tramou o Comendador?". Dirigi a primeira.

Casei com a Marluce com quem vivia desde finais de 1979


Em 1996, fui director de programas da TVI de Março a Dezembro. Foi um contrato a termo certo.

Em 1997, a "TV GUIA" nomeou-me como o melhor produtor de televisão português. Fui nomeado também para os Prémios Nova Gente e para os Globos de Ouro em 1997 e 1998. Em 1999, o Troféu "Expresso" foi me entregue, destacando-me como uma das 25 figuras públicas que mais se evidenciaram na sociedade portuguesa entre 1974 e 1999. Na Gala dos "Globos de Ouro", ganhei o prêmio de melhor apresentador de programas de entretenimento de 2000.

Em Maio de 1998, o Governo Português convidou-me para dirigir a campanha da candidatura portuguesa ao Campeonato Europeu de Futebol: o "Euro 2004". Em Outubro de 1999 e após uma luta aguerrida com a Espanha, com a Áustria e a Hungria, Portugal recebeu a a organização do campeonato. 

Com o Dalai Lama em Lisboa


Tive uma agência de publicidade: a Produções Marajó. Através dela fiz várias campanhas de publicidde e dei a "cara" por várias marcas e empresas.

 

Milénio

A minha mãe, Emília, morreu a um mês de completar 101 anos no ano 2000. 

 

Nesse ano, o Presidente da República à época, o Dr.º Jorge Sampaio, condecorou-me no dia 10 de Junho com o Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Regressei à RTP, também em 2000, como apresentador do programa "Quem quer ser milionário?", porém não fiquei muito tempo e fui para a SIC ainda nesse ano apresentar  a "Febre do Dinheiro", "Linha da Sorte"  e  "Noites Marcianas".

 

 

 

Fiz a campanha de  apresentação do Euro moeda

 

 

Em 2002, e ainda na SIC, apresentei um programa de entrevistas a jovens prodígios que se destacavam em várias áreas: Fora de Série.

 

Comecei a negociar a minha saída deste canal para voltar à RTP.

No dia 31 de Janeiro de 2003 fui detido no âmbito do processo Casa Pia e acusado de abuso sexual de menores.

 

Anos em questão

Durante o período em que me acusam (último trimestre de 1999 e primeiro e último trimestres de 2000) a minha vida profissional decorria entre gravações do programa "Quem Quer Ser Milionário" e da "Febre do Dinheiro", entre a fase final da candidatura do Euro 2004 e a preparação de novos desafios de formatos para TV. Já nessa altura, confesso, pensava em fechar a CCA - produtora que eu tinha - por falta de encomendas.

Os meus poucos tempos livres eram sempre passados em família. Nessa data a Mariana, a minha filha mais nova, ainda não tinha nascido, mas já vivia com a Raquel, uma fase feliz, cúmplice e de grande companheirismo. Fazíamos tudo o que dois namorados gostam de fazer: viajávamos, iamos a exposições, ao teatro, ao cinema, a inaugurações, namorávamos, estávamos com amigos, etc.

  

 

Quando fui detido, em 2003, não sabia de nada: não conhecia os meus co-arguidos, não conhecia nenhum dos assistentes, conhecia  Elvas de passagem no percurso para Espanha (a última vez com a raquel em Novemvro de 1997)e nunca havia entrado em nenhum prédio da Av. das Forças Armadas.

Para demonstrar que era impossivel ser culpado, durante esse ano (em que estive detido) reuni tudo o que tinha ao meu alcance. Reuni os registos das antenas activadas pelo meu telemóvel, os Visas assinados pelo meu punho, as facturas, as Vias Verdes, os multibancos, os bilhetes de avião, as cartas de entidades oficiais, etc, etc, etc. Todos este documentos tinham datas relativas a 5 anos da minha vida (1998-2002), já que inicialmente (até Dezembro de 2003 e quase 1 ano após ter sido detido) eu não sabia do quê, como, quando ou por quem estava a ser acusado.

 

  

 

Nas suas alegações finais de 24 de Novembro de 2008 o Ministério Público observou, e bem, que a minha ida aos telejornais das três televisões, foi decisivo para o meu envolvimento neste caso: "Ofereceu-se à vista dos que o queriam comprometer (...) Se não tivesse ido à televisão, provavelmente não estaria envolvido neste processo", disse o Procurador João Aibéo. Sublinho a expressão "dos que o queriam comprometer"

Apareci na televisão no seguimento das declarações da Dra. Teresa Costa Macedo. E Costa Macedo falava em mim porque o meu nome aparecia citado num relatório por um aluno de 1982 como frequentador da casa do embaixador Jorge Ritto. Na sequência destas intervenções, o autor de tal afirmação, declarou que o que tinha dito tinha sido uma "treta".

Ainda assim, fui preso no dia 01/02/03!