"Sou eu e o FG, que é muito meu amigo, que temos dito tudo à Polícia Judiciária..."

JPL a 29 de Julho de 2003


JPL
é um dos elementos do trio inicial que levou à minha prisão. Foi companheiro de lar e mesmo de quarto dos outros dois, FG e LM. Foi o primeiro dos assistentes a ser assinalado pela PJ através de uma nota do inspector Dias André (04.12.2002) que a justifica baseando-se em informações anónimas!

JPL juntamente com MP andou envolvido com o cidadão Inglês Michael Burridge, o que deu origem ao chamado Processo de Oeiras (investigado também por José Alcino, elemento importante da equipa que investigou o caso Casa Pia) que estava ainda a decorrer na altura. Nunca nesse processo houve referências a qualquer outro abusador. Foi ao Porto de avião, levado pela TVI, falar com MP. Este, que tinha já declarado que eu nada tinha a ver com isto, depois desse encontro passou a acusar-me.

Data de Nascimento:
01/10/1984 (25 anos)

Data de Admissão na CPL: 07/08/1992 (7 anos)

Dr. Pedro Strecht - consultas desde pelo menos Fevereiro de 1997 com agendamento de visitas regulares a partir desse momento. Este médico nunca denunciou às autoridades os abusos de que JPL diz ter sido vítima.


Deve clicar em cada tema para saber mais.

1. Não conseguiu reconhecer nada... sem ajuda.

JPL, é o melhor amigo de FG (o Juiz Rui Teixeira afirmou que os jovens não se conheciam). Ouvido em 3 de Janeiro de 2003 diz que não teve contactos comigo mas no dia 20 afirma que "reconsiderou" (sic) e que afinal foi comigo e passa logo para dez vezes! Mas também diz que a TVI não o largava e que até o levou de avião para o Porto para falar com MP, e lhe ofereceu advogado que ele recusou porque a PJ já lhe tinha tratado disso! Convém não esquecer que MP disse à mãe: "tocaram-me no ponto fraco que é o dinheiro". E disse à Comunicação Social antes desse encontro que eu não tinha nada a ver com isto e que só me conhecia da televisão.

Os reconhecimentos que fez com o Tribunal à casa de Elvas, gravados em imagens, não fazem o minimo sentido. Refugia-se permanentemente, porque não fazia a mínima ideia onde estava, na frase: "isto está tudo mudado". Fala de uma sala onde teria estado para logo a seguir dizer que não esteve em sala nenhuma e acaba mesmo, na casa, lá dentro, por dizer que a parede interior principal não existia. Ora a casa está como foi construída em 1982!

No Teatro Vasco Santana esteve sempre perdido e ia descrevendo, mesmo no local, tudo ao contrário da realidade e acabou por ser manipulado pelo próprio Procurador Dr. João Aibéo para emendar a metira que estava a dizer (isto está provado no vídeo do Teatro Vasco Santana gravado pelo próprio Tribunal)

É este o rapaz em relação ao qual o Tribunal alterou a data em um ano, para o poder colocar na Av das Forças Armadas ao mesmo tempo que LM.

Apesar do que está na acusação, JPL declarou á Juíza de Instrução:
O declarante apenas esteve nas casas de Elvas, na de Cascais do Jorge Ritto e no estúdio do Carlos Cruz da Feira Popular. Foi ao estúdio da Feira Popular do Carlos Cruz mas nada aconteceu aí, tendo apenas visto o mesmo" (fls 19037).

Diz que reconheceu a casa do embaixador Jorge Rito quando a viu na Televisão mas nos anos dos supostos “crimes” o embaixador não habitava aquela casa.

Andou às voltas em Elvas com uma jornalista da TVI à procura de uma casa e justificou a sua dificuldade dizendo que só tinha ido a Elvas de noite. Ora os “crimes” eram durante o dia. Quando regressou a Elvas depois disso com a PJ... segundo os Autos, foi lá direitinho.

Os seus desenhos da casa de Elvas e do apartamento da Av. das Forças Armadas não têm nada a ver com a realidade.

2. Relações com outros assistentes

Relembro que o Dr. Juiz Rui Teixeira afirmou que os assistentes não se conheciam.

JPL
é colega de Lar, de quarto e de turma de FG no ano lectivo 99/00.

LM também é colega de Lar e de quarto de JPL em 1999/2000.

Acerca de FG e LM, JPL refere que são mais que amigos, são irmãos. "Companheiros de quarto que viveram comigo 24 horas".

JPL
é "mais que amigo, irmão" de MP com quem frequentava a casa de Michael Burridge no Processo de Oeiras.

3. Telefonemas

A primeira referência que encontrei em inquérito em relação a números de JPL data de 10 de Janeiro de 2003 (21 dias antes de ser preso) num pedido do Ministério Publico. No entanto, as listagens das suas chamadas só chegam ao processo a 23 de Julho de 2003 (173 dias depois de eu ser preso).

A listagem dos registos telefónicos de JPL são as únicas listagens telefónicas de um assistente referente às datas em questão (1999-2000) que podemos encontrar neste processo. Não se encontram entre os registos das chamadas (efectuadas e recebidas) nenhuma chamada para nenhum dos arguidos deste processo ou de qualquer deles.

4. Colegas que associou às idas a Elvas

Antes de eu ser preso, JPL em 2 interrogatórios, refere 14 colegas. No primeiro interrogatório JPL apenas refere FG e LM - os três testemunhos à altura da minha prisão.

No segundo interrogatório, dia 20 de Janeiro de 2003 (11 dias antes de eu ser preso) JPL identifica 7 colegas que estiveram em Elvas:

  • 4 deles "de certeza absoluta"
  • 2 como tendo estado em Elvas
  • 1 como tendo ido a Elvas mas apenas uma vez.

 Somente 4 são ouvidos antes da minha prisão e um deles nunca chega a ser ouvido. Todos desmentem

5. Falou em Carlos Cruz pela primeira vez

Logo no seu primeiro depoimento à PJ no dia 3 de Janeiro de 2003 (28 dias antes de eu ser preso e 36 dias após as minhas entrevistas às Televisões).

6. Situação anterior ao internamento na CPL

Após a separação dos pais, JPL e o irmão foram internados na Casa do Gaiato onde permaneceram algum tempo até uma tia-avó os receber em sua casa.

Mais tarde pede o internamento dos sobrinhos na Casa Pia de Lisboa.

7. O Processo Individual de JPL, da Casa Pia de Lisboa

Só foi apensado ao processo no dia 19 de Novembro de 2003 (292 dias depois de eu ser preso).  

Neste Processo Individual constam dados biográficos de JPL e uma série de referências à sua passagem na CPL relatados pelos seus educadores, perceptores e psicólogos:

A adaptação de JPL à Casa Pia de Lisboa não é fácil. Referências às atitudes anti-sociais que envolvem este educando vêm de longa data. Começam em 1992. De Setembro de 1992 a Julho de 1993, o educando fugiu 18 vezes do Lar.

Em Setembro de 1992 as tendências de comportamentos perversos já se manifestavam.

Constam dos registos do Lar que o JPL, no Colégio Nuno Alvares, levava os colegas para os WC e obrigava-os a brincar com o seu órgão sexual.

Os anos que antecedem a sua expulsão, de Janeiro de 1998 a Março de 2000 encontram-se registados pelos Educadores

1998

Janeiro -O educando obrigava ou ele próprio baixava as calças às raparigas para as ver despidas, apalpando-as seguidamente;

Março - O educando roubou sucessivamente três telemóveis de professoras;

Abril - O educando roubou uns Walkmans a um grupo de jovens que visitou o Colégio;

Maio - O educando furta um boné em Belém;

Junho - O educando foge do Lar. No mesmo mês, trata com agressividade e malcriadamente os educadores afirmando que ninguém manda nele;

Julho - O educando foge do Lar e temporariamente esteve ausente (do Lar e das aulas);

Agosto - O educando vai passar uns dias com a tia roubando-lhe coisas para posteriormente vender;

1999

Fevereiro - O educando é mal-educado para com o monitor e tenta agredi-lo;

Abril - O educando arromba uma porta de uma sala de aulas para furtar e foi mal-educado com o funcionário que o apanhou;

Maio - O educando foge do Lar durante a noite e vai ter com o irmão mais velho que é homossexual;

Junho - O educando foge de novo do Lar e vai refugiar-se no Casal Ventoso;

Julho - O educando furta do Lar Gil Teixeira Lopes uma bicicleta e uns ténis a um colega;

Agosto - O educando leva para casa da tia vários toxicodependentes que a levaram a solicitar a intervenção da polícia;

Setembro - O educando furta do Colégio 8.000$00;

Novembro - O educando participa numa agressão colectiva a um colega;

2000

Janeiro - O educando fecha uma professora na sala de aulas e é agressivo para com o funcionário que intervém em sua ajuda;

Fevereiro - O educando pede ao Educador de serviço para sair, este não o autoriza, o
João foge do Lar e só aparece à noite. Em reunião do conselho de turma todos os intervenientes afirmam que não podem aturá-lo, que não conseguem cumprir a sua missão pelos sucessivos conflitos.

Fevereiro - Assume ter relações sexuais com um homossexual a troco de 5.000$00. O educador de serviço tenta saber mais informações sobre esta situação e recebe como resposta agressividade batendo-lhe com a porta do seu quarto com violência. O educador abre a porta e repreende-o. Contudo, o João utilizando palavrões ofende o educador que lhe dá um abanão. O educando, foi participar do educador à polícia que se deslocou ao Colégio para identificar o educador e proceder à respectiva participação.

Março - O educando molesta uma senhora em Belém e tenta agredir o marido da senhora. Esta situação mereceu a intervenção da polícia que se desloca ao Colégio para identificar o JPL e proceder ao levantamento de auto de averiguações.

É apanhado com droga dentro do Colégio e no processo de expulsão de JPL pode ler-se que o mesmo tem "comportamentos infames características de um delinquente altamente perigoso nas suas relações com os restantes educandos (...) Nem um acto de arrependimento, nem um gesto de compreensão pelo empenhamento e apoio que lhe tem sido prestado pelos profissionais do Colégio. Reagiu como um pequeno marginal. Ameaçando, na presença da educadora, o director do Colégio, afirmando, "se me denuncia eu mando tratar de si.""

Em conclusão, sobre JPL, o director escreve que entende ser "altamente perigoso para a saudabilidade dos cerca de 1500 jovens que estão à nossa responsabilidade, mantê-lo na instituição."

8. JPL ouvido pelas autoridades

 

Data

Diligencia

Local

1

03-01-2003

Interrogatório

Gomes Freire

2

20-01-2003

Interrogatório

Gomes Freire

3

24-01-2003

Declarações

Min. Trabalho - Praça de Londres - Sobre Manuel Abrantes

4

13-02-2003

Reconhecimento

Elvas

5

13-02-2003

Interrogatório

Gomes Freire

6

23-07-2003

Perícia Psicológica

IML

7

29-07-2003

Perícia Física

IML

8

27-08-2003

Interrogatório

Gomes Freire

9

21-11-2003

Reconhecimento

2 locais em Belém, um local em Lisboa e um em Cascais

9. Colegas, educadores e psicólogos da CPL, em Inquérito sobre JPL

Teresa Maria Morgado Antunes Vieira - Educadora
Data da diligência: 2003/01/10 (21 dias antes de eu ser preso)
Recordando uma situação que aconteceu há cerca de 2 ou 3 anos, com dois alunos da Casa Pia de Lisboa, um do Lar Maldonado Gonelha e outro do Alfredo de Soares, de nome MP e JPL, que a dada altura apareceram com algum dinheiro. Por ter estranhado tal facto, a declarante interrogou-os acerca da sua proveniência, tendo os mesmos informado que lhes havia sido dado por um indivíduo de nome Mike, com quem se encontraram numa morada em Santo Amaro de Oeiras, junto à estação do comboio
O motivo pelo qual ele lhes havia dado o dinheiro, os alunos não disseram, mas a declarante suspeitou de que eventualmente se poderia tratar de dinheiro proveniente de tráfico de droga. Aliás, quando os alunos por vezes apareciam nos colégios com dinheiro ou bens, suspeitava-se de que eventualmente poderiam andar a dedicar-se ao tráfico de droga.

TDGM
- colega
Data da diligência: 2003/02/18 (17 dias depois de eu ter sido preso)
Diz que não se dava muito bem com o FG, nem com o JPL, ou o MP ou o LM, porque não gostava muito das "suas atitudes", porque "só faziam porcaria".

MP – colega, grande amigo e envolvido com ele no caso Mike

Data da diligência: 2003/04/23 (72 dias depois de eu ser preso)
O depoente também não fala com o JPL desde que saiu da CPL e só o viu na TVI num dia em que esta estação, há cerca de dois meses, fez uma reportagem sobre a CPL. No entanto, nesse dia não falou com ele. O depoente não conhece ninguém com o nome de FG e não sabe, por isso, quem possa ser tal pessoa.

Nota: MP
entrou mais tarde nesta história como “vítima” onde alegadamente seria abusado exactamente em conjunto com FG que diz não conhecer

Carlos Alberto Castanho Vicente de Jesus - Educador

Data da diligência: 2003/09/24 (236 dias depois de eu ser preso) 
A única situação de abuso sexual que teve conhecimento no decorrer das suas funções de educador aconteceu com o JPL e o MP em relação a um indivíduo estrangeiro chamado Michael. O JPL, na altura educando do Alfredo Soares, andava com mais dinheiro que os restantes educandos e não escondia este facto, por exemplo, puxando notas de 5.000$00 do bolso. Isto levou a que o depoente o interpelasse para saber a origem do dinheiro. Ao fim de algum tempo o JPL deu a conhecer que era o tal Michael que lhe dava o dinheiro em troca de favores sexuais, a si e a outros rapazes, como o MP. No que diz respeito às saídas dos educandos, o depoente esclarece que só permitia a saída de maiores de 16 anos sozinhos.

10. Exame físico a 29 de Julho de 2003

Declarações no Instituto Nacional de Madicina Legal : "Eu e FG, que é muito meu amigo é que temos dito tudo à PJ. Estava farto da Escola... Aquilo era só pretos... Mas também porque as pessoas da TVI começaram a puxar-me [...] havia uma jornalista que não me largava... Pagavam almoços no Rodízio... Levaram-me de avião ao Porto ter com o MP para que ele se sentisse mais à vontade para falar... e eu sou uma pessoa fraca.... Deixo-me levar [...] fui reconhecido pelos familiares, amigos e vizinhos [...] mas continuaram atrás de mim... Até me ofereceram um advogado... Eu disse-lhes que não precisava porque a PJ já tinha tratado disso..."

11. Em Instrução

Pedro Palma, familiar de JPL e jornalista, conta à Juíza de Instrução que:
"O JPL contou-lhe ainda que tinha feito um telefonema a pedido de Manuela Moura Guedes e de uma outra jornalista para casa de Carlos Cruz no intuito de lhe montar uma armadilha: identificou-se com um nome fictício mas como sendo da CPL e pediu-lhe ajuda económica, tendo Carlos Cruz respondido: "vai chatear o Camões".
Mais, "falou com familiares para saber até que ponto era verídico o que JPL lhe dizia, mas as mesmas disseram-lhe que ele era muito mentiroso. Aquando da primeira conversa, recorda-se ainda que quando o depoente perguntou ao JPL se tinha a certeza do que estava a dizer, o mesmo respondeu-lhe algo do género que tinha as costas quentes ou protegidas pela PJ (...)".

12. Exame à Personalidade

Perfil Psicológico: Alexandra Anciães e Costa Santos identificam uma perturbação da personalidade border-line. Nivaldo Marins admite características de personalidade anti-social.

13. Abusos relatados JPL

JPL terá sido abusado por Michael Burridge - Mike. ( Processo de Oeiras)

14. Informações adicionais

Dia 18 de Janeiro de 2002 (um pouco mais de um ano antes de eu ter sido preso) sai a Acusação de um processo de abusos sexuais de menores em Oeiras. A equipa de investigação era constituída, pelo menos, pelos Inspectores José Alcino, Fernando Baptista e Cristina Correia que também estiveram na equipa do Processo Casa Pia. As duas das principais testemunhas desse processo foram MP e JPL (também duas das principais testemunhas do Processo Casa Pia). O espaço temporal é o mesmo nos dois processos 1999 e 2000. Não deixa de ser curioso o facto de algumas descrições coincidirem com os factos relatados num e depois no outro processo (locais, carros, etc). Não há quaisquer referências aos arguidos do processo Casa Pia.

No dia 5 de Dezembro de 2002, dez dias após o começo do processo Casa Pia, o Inspector Dias André comunica à Drª Rosa Mota que "O ex aluno, JPL, que esteve no Lar Alfredo Soares foi uma das vítimas sistemáticas de Bibi e seus cúmplices." FG é ouvido onze dias depois, no dia 16 de Dezembro de 2002 (primeiro de três testemunhos - FG, JPL e LM - que me levaram à prisão). JPL é ouvido pela primeira vez dia 3 de Janeiro de 2003.

Dia 29 de Janeiro, dois dias antes de eu ser preso, recebi um telefonema de Alexandra Borges, jornalista da TVI, perto das 18 horas. Menos de 45 minutos depois, recebi outro telefonema para o mesmo número: a pessoa apresenta-se como "André" e pergunta se eu não se lembrava de lhe ter dito há anos que ele era o mais bonito? Ora, "André" foi o pseudónimo para esconder o verdadeiro nome de JPL. Como poderia eu conhecer um tal André, quando o seu nome verdadeiro é JPL?

Mais recentemente, no dia 6 de Março de 2009, JPL declarou em entrevista ao 24horas que se sentia usado pela Casa Pia de Lisboa: "Houve muitos que hoje têm a carta de condução dada pela Casa Pia [alusão a FG] E há outros que não têm nada, porque não fizeram jogos com a Casa Pia." "Há vítimas no processo e há outras vítimas sobre as quais eu desconfio se são vítimas ou não. Por exemplo: um aluno fez jogos com a Casa Pia, "ou vocês me dão isto ou eu falo com a comunicação social." Termina dizendo "se a minha boca se abre o mundo descamba." 17 Dias depois da entrevista ao 24horas, dia 23 de Março de 2009, de acordo com o Jornal Expresso, JPL é preso no Aeroporto de São Paulo com cocaína escondida no estômago. Está preso no Brasil e aguarda sentença.