Depois de todos os desmandos e de todas as campanhas de intoxicação que aconteceram neste processo pensei que o jornalismo tinha feito um exame de consciência e que objectividade e imparcialidade iriam marcar as notícias sobre o actual momento processual. Enganei-me. A manchete do Correio da Manhã "Carlos Cruz Despacha Bens"- "Negócio antes da Sentença" é mais um exemplo do "jornalismo" que se vai fazendo, embora com esta afirmação não queira fazer generalizações. Apesar de tudo, a maioria tem sido séria nesta ocasião.

É público, desde a minha prisão, que eu tive que vender bens, património. Nunca o escondi. Há quase oito anos que o povo português sabe isso. Aliás, o próprio Correio da Manhã deu grande destaque à venda de uma casa que eu tinha no Algarve. O "grande negócio" antes da sentença foi a cessão de 5% de uma firma, a uma ex-colaboradora minha, empresa que tem prejuízo há 8 anos, que não tem praticamente receitas (podem consultar as Finanças). É uma quota que vale ZERO. O resto, toda a gente sabe: vendi, vendi, hipotequei, hipotequei e, inclusivamente, o terreno de Tróia está penhorado por uma dívida da CCA que não consegui pagar devido ao processo Casa Pia. É caso aliás que está por decidir ainda porque tem contornos discutíveis. Mas isso é a minha vida. Pergunto ao Correio da Manhã: "despacho o quê? "Despachei o quê em oito anos sem trabalhar e a tentar ter uma vida minimamente digna para a minha família? Só uma pessoa cujos valores morais a levariam a "despachar os seus bens" pode inventar uma manchete destas! Haverá um espelho lá em casa?