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Dr. Miguel Matias- Advogado da Casa Pia e das vitimas

(excerto de entrevista ao Jornal "I" - 01.09.2010

 

A fragilidade e os percursos de vida complexos foram uma arma usada contra eles, procurando pôr em causa a credibilidade dos testemunhos. Não teve dúvidas sobre os relatos que ouviu?

No dia em que tiver a mínima dúvida sobre o que estou a fazer, nesse segundo vou-me embora, imediatamente. Nunca senti dúvida nenhuma sobre o que estou a fazer. Senti, pelo contrário, muita coragem naqueles miúdos, no que relataram. Senti também muita indignação pelo facto de terem relatado circunstâncias e factos que depois não foram bem investigados ou não foram conduzidos convenientemente. Ou foram conduzidos convenientemente, dito de forma talvez mais cínica e irónica.

A investigação não apurou tudo o que deveria apurar?

Não é bem a investigação. Mas eu não queria ir por aí. O que quis dizer é que algumas coisas que contaram, infelizmente para eles, não conduziram a julgamento. São elementos que para eles resultam em frustrações, pelo facto de se terem exposto. Não foi bem a investigação, foi todo o processo que foi conduzido, não digo que de forma consciente para um determinado fim, embora nalgumas circunstâncias até tenha dado essa sensação... Mas não quero ir eu por aí. Um dia a história far-se-á sobre este processo e sobre todo ele, não só sobre o julgamento. Não só sobre as pessoas que estão aqui a ser julgadas.

Nos relatos que fizeram, referiram mais pessoas que não foram investigadas?

Os jovens referiram várias pessoas. Algumas chegaram a ser investigadas mas por força de circunstâncias várias, entre elas o tempo, não se chegou a uma fase em que se pudesse apurar a verdade com mais acuidade. Falaram noutras pessoas, que tiveram muita dificuldade em identificar, porque estamos a falar de situações em que os jovens são colocados em determinados espaços, com variadíssimos adultos que depois não tornam a ver - ou se voltam é também nessas circunstâncias. Para aqueles jovens, com um universo mais reduzido do que o de um jovem que vive em contexto familiar, é ainda mais difícil a identificação.

As maiores dificuldades foram de identificação?

Também.

Acredita que houve manipulações políticas e dificuldade dos investigadores em conduzirem o processo sem pressões?

Se houve manipulações políticas ou não, não sei. A única coisa que sei é que os políticos não estão no processo Casa Pia.

E deviam estar?

Não sei, não sou investigador. A história vai ser feita, vai ser apurada e vai-se verificar, um dia mais tarde, quem é que devia ter estado.