Comunicação Social > Lançamento do livro Inocente Além de Qualquer Dúvida

Cerca de 300 pessoas, entre caras conhecidas e anónimos, marcaram presença no Teatro Villaret no dia do lançamento de Inocente para além de qualquer dúvida.

As palavras do Dr. Manuel Pedro Magalhães são brilhantes, atingem em cheio o centro da questão. Corajosas e muito lúcidas. Insuspeitas. Cirúrgicas. Mesmo com pouca qualidade, aqui estão, com o meu mais profundo OBRIGADO.

 Algumas fotografias do evento:

Abaixo deixo ainda as minhas palavras neste dia:

"Em primeiro lugar quero agradecer a presença de todos os que aqui se encontram qualquer que seja o estado de espírito ou a convicção de cada um.

Entre todos, um agradecimento especial para a Raquel, que foi minha companheira durante quase 14 anos. A sua presença aqui, para além da evidente prova pública (mais uma) de solidariedade que significa, é também uma resposta a todas as provocações que têm sido feitas em tentativas patéticas de atribuir a nossa separação conjugal a uma mudança das certezas que a Raquel sempre proclamou da minha inocência. Muitas são as separações que acontecem diariamente pelos mais variados motivos e que dão muito colorido ao cor-de-rosa de certas publicações. A nossa, por muito que seja difícil de engolir, foi um acto mútuo de respeito e solidariedade.

Sejam todos bem-vindos.

Gostaria de referir alguns pontos que para mim são relevantes-

E começo pela razão da escolha deste Teatro para fazer a apresentação deste meu livro:

-Entre Março e Dezembro de 1969, no Teatro Villaret, eu e dois companheiros e grandes amigos (Zé Fialho Gouveia e Raul Solnado) vivemos dias muito intensos. Graças a um programa de televisão, chamado Zip-Zip, tivemos o privilégio mas também a tristeza de tomar conhecimento de que existia um país pleno de injustiças da mais variada natureza com relevo para as abissais desigualdades sociais e para a total incapacidade, imposta pelo sistema, de muitos portugueses humildes e maltratados poderem fazer ouvir sua voz. Quisemos, com alguma ingenuidade, ser essa possibilidade. Com as limitações da época e numa luta semanal com a censura (representada nas gravações por um senhor que no final nos dava a lista do que tínhamos de cortar) nós três ainda conseguimos mostrar ou pelo menos dar a entender aos portugueses alguma dessa realidade. E só desistimos quando o poder começou a cortar a torto e a direito, sem qualquer critério, a não ser o do primitivismo intelectual como, por exemplo, sermos proibidos de perguntar aos entrevistados quanto é que ganhavam por mês para não mostrarmos os salários de fome.

-No dia 24 de Março de 2003, estava eu preso, muitos amigos meus encheram este Teatro para uma festa de música e palavras sob o título de "Um Abraço para Carlos Cruz". Foi o meu presente de aniversário que guardo religiosamente em formato CD. A amizade do Zé Fialho, o amor da família, a solidariedade de tantos e tantos artistas e a capacidade e amizade do Carlos Pedrosa Cruz (o outro Carlos Cruz ou CC2) concretizaram um espectáculo a que não assisti mas que guardo na memória e, acima de tudo, no coração)

Tenho portanto do teatro Villaret duas emoções. E se a do dia 24 de Março é uma lição de amizade, e afirmação da convicção da minha inocência por parte de tanta gente que aqui esteve presente como espectador ou como actuante, a recordação do Zip-Zip tem um valor muito mais abrangente porque toca a defesa dos valores com que cresci e que afinal estavam a ser espezinhados no meu próprio país. Falámos, eu o Zé Fialho e o Raul, muito disso. Entre nós e com amigos/cúmplices do que estávamos a tentar fazer: a denúncia da injustiça, a revelação da Verdade. Recordo Jaime Mourão Ferreira e principalmente Fernando O'Neto, primo do Raul, várias vezes preso pela PIDE e sujeito também várias vezes à tortura do sono a que ele resistia, segundo nos contava com uma extraordinária força interior, pensando, nesses momentos, em filmes de cowboys com o John Wayne.

Esse período da minha vida reforçou em mim o repúdio pela injustiça e o amor pela Verdade, valores que meu pai já me tinha transmitido. Desse período eu saí mais triste mas muito mais consciente: a mentira, a propaganda, a manipulação eram uma realidade no meu país. A sua denúncia corria o risco de ser severamente punida: prisão, tortura, desterro.

Por tudo isto, por me recordar cada vez mais, por analogia, desse período, achei que não havia espaço mais simbólico para apresentar o meu livro do que este. Porque o meu livro está na linha coerente do nosso projecto do Zip Zip: denunciar a mentira, lutar pela verdade e pela justiça.

Escrevi-o muitas vezes movido pelos mesmos sentimentos que me assaltavam quando criávamos mais um programa ZIP. E se desta vez falo de mim, o que está em causa não é apenas o indivíduo ou o cidadão Carlos Cruz mas sim o que permite que o cidadão Carlos Cruz, ou qualquer outro, seja vítima de uma enorme mentira, de uma terrível injustiça. E portanto aquilo que permite admitir que possam existir ou que possam vir a acontecer casos como os do cidadão Carlos Cruz. Citando Kafka:

Alguém deve ter difamado Joseph K., porque sem ter feito nada de errado foi preso numa bela manhã.

Só que em 1969 era sob a tutela e vigilância de um Estado autoritário. Desta vez é mais grave: tudo se passa à sombra de um Estado chamado de democrático. E, se não há estado democrático sem Justiça, então há que estar atento e lembrar Martin Luther King como faço no meu livro:

Uma injustiça em qualquer lado é uma ameaça à justiça em todo o lado.

Ao Vasco Morgado, o meu obrigado pela cedência deste espaço.

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Prestado este esclarecimento, quero agora registar o meu profundo agradecimento ao Dr. Manuel Pedro Magalhães.

A sua forma de ser cidadão, o seu estatuto profissional, a sua craveira intelectual conferem à sua presença aqui um valor acrescentado que jamais esquecerei. Estar aqui, para mim, também tem a leitura de um acto de coragem e de exercício da sua própria liberdade.

Há quem diga que o coração comanda muito as emoções e os sentimentos. Mas julgo poder afirmar que é o cérebro a grande fonte do pensamento. E não há cérebro sem um coração a bater.  E por muito que este não tenha a ver com o nosso mundo racional, o coração é a fonte indispensável para todo o milagre chamado Vida.

Não me lembro de alguma vez ter tido o coração ao pé da boca. Mas lembro-me muito bem que o Dr. Manuel Pedro Magalhães teve o meu coração nas mãos, literalmente. Parou-o e ressuscitou-o depois de me costurar 4 bypasses que ainda duram. Não tivesse sido ele e hoje, possivelmente, eu não estaria aqui. Não sei se lhe fez mais alguma coisa mas é o mesmo coração que teve nas mãos. Ainda bate e fornece a necessária energia ao cérebro onde, então sim, nasce o pensamento. Não lhe atribuo, doutor, a responsabilidade pelos meus pensamentos, mas o senhor é responsável por contribuir para que o meu pensar sobreviva. E porque me orgulho do que penso, agradeço-lhe por me ter salvo o coração. Há 18 anos.

E agradeço-lhe, ainda mais e muito sensibilizado, o facto de com a sua presença reconhecer algum valor ao que penso.

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Olho para esta sala e sinto-me reconfortado. Entre rostos conhecidos e de amigos vejo rostos para mim anónimos que quiseram assistir a este pequeno evento. E renovando o meu obrigado pela vossa presença, faço um agradecimento muito especial aos muitos que aqui não se encontram mas que quiseram justificar a sua ausência enviando-me mensagens de conforto, apoio e dizendo-me de onde estão a esta hora e afazer o quê.

Entre apresentações de filmes de um canal de televisão, espectáculos onde intervêm em localidades longe de Lisboa e compromissos profissionais até em funções docentes, as faltas estão mais do que justificadas. Não tinham que o fazer. Mas sensibilizou-me porque é outra forma de marcar presença. Amigos e colegas, desde o teatro à música, desde a rádio à televisão, fui encontrá-los espalhados pelo mundo, de Londres a Madrid, da Suiça a Miami, do Porto ao Algarve, do Rio de Janeiro a Luanda.

E de Luanda chegaram-me duas mensagens da mesma pessoa, que leio com a necessária autorização e com as quais simbolizo todas as outras.

-De Luanda com muita amizade um abração. Contigo sempre.

Um dia depois, segundo SMS

-Espero que tenhas muitos amigos. Sei que a minha irmã Paula é, como eu, uma fervorosa defensora da tua inocência. Regresso 5ª feira. Senão estava aí contigo

Assinado: Rui Veloso

Obrigado Rui. Obrigado a todos.

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Uma palavra para a minha editora Vogais. Também de gratidão. Pela forma com que aceitou o projecto e muito pela forma como o tem tratado: Para o Manuel, a Ana, Guilherme e Joana; para toda a força de vendas; para o paginador Ilídio Vasco que fez um trabalho de enorme qualidade, muito obrigado. 

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 Sei também que estão aqui várias pessoas que contactam comigo através do Facebook. Já reconheci algumas caras pelas fotografias que têm no seu perfil e outras estarão que ainda não identifiquei ou que terei mais dificuldade em detectar. Sejam bem-vindos todos e obrigado pelo vosso apoio praticamente diário.

O Facebook, uma estrutura híbrida a que chamam rede social tem sido uma odisseia que me chega a lembrar o Big Brother: fecharam a minha página individual por três vezes. Já estava com 6200 amigos. Não contendo discurso racial, não incitando à violência, não tendo conteúdos pornográficos custa-me a entender a política do Facebook que nem dá qualquer justificação pelo fecho. A Censura nos anos 60, por vezes ainda tentava explicar: por exemplo, quando tive um programa chamado Discorama em 1963 fui proibido pela máquina censória (eufemisticamente baptizada por Marcelo Caetano de exame prévio) de mostrar fotografias dos Beatles. E porquê? Porque tinham o cabelo muito comprido. É estúpido mas é uma razão que me foi comunicada oficialmente. No Facebook não. Fecha-se e acabou-se. Porquê? Não dizem. Tenho então agora uma página de figura pública que tem algumas limitações em relação a um perfil pessoal como se sabe. Pois, enquanto vive, contava às 16:30 com 1239 aderentes mas com forte tendência para crescer. Até quando? Não sei. A quem incomodam as minhas páginas e os meus amigos na Net? Não sei. Mas tenho o direito de suspeitar.

E falando em Net: como sabem abri, no dia da sentença, um site na internet www.processocarloscruz.com. Tem até hoje cerca de um milhão e duzentas mil visitas. Continuava, ao fim deste tempo todo, com uma média entre as 100 e as 300 visitas diárias. Pois agora que as pessoas sabem que têm este livro como fonte de informação e esclarecimento, comecei a notar um aumento de visitas ao site. Isso significa que as pessoas querem mesmo ser informadas procurando no site informação complementar do que se encontra no livro. Possivelmente para não se sentirem cúmplices, por omissão ou por opinião não fundamentada, dum erro judicial cruel.

Ontem, até à meia noite, o site teve 678 visitantes. Depois da meia noite e apenas até às 16:30 já ia em 790. Desde o dia 12 foram vistas, pelos leitores, 17.388 páginas.

Um cidadão bem informado pode ser mais justo e será sempre mais livre.

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Finalmente só mais dois pontos que me dão especial satisfação:

Ontem à tarde, um dos mais conceituados jornalistas internacionais de investigação publicou no seu site oficial uma entrevista comigo antecedida de um pequeno artigo a que deu o título "Carlos Cruz é inocente!"

Tomar conhecimento desta afirmação, escrita por este jornalista é razão para me sentir ainda mais acompanhado na minha missão. O seu livro sobre o Grupo de Bilderberg já vendeu mais de três milhões e quinhentos mil exemplares. Pelo seu trabalho de denúncia de injustiças, complots e organizações altamente suspeitas de grandes conspirações, já sofreu três atentados à sua vida.

Em Portugal estão publicados dois livros de sua autoria: "Toda a Verdade sobre o Club Bilderberg" e " Os Senhores da Sombra". Recomendo a sua leitura para uma melhor compreensão da crise que Portugal e a Europa estão a atravessar.

Chama-se Daniel Estulin e o seu site é www.danielestulin.com. Tem artigos em inglês e espanhol (as suas duas línguas) mas tem tradutor automático razoável. no próprio site.

Finalmente um último ponto:

Chegou ao meu conhecimento que em Julho e Setembro do ano passado uma empresa realizou uma sondagem, com um inquérito a 1500 pessoas numa amostragem a nível nacional.

Tive acesso ao resultado desses estudos e, não estando autorizado a revelar o nome da empresa, tenho o seu acordo para referir os resultados.

Assim, feita a média ponderada dos dois trabalhos, o resultado é:

18,7% -Considera-me culpado

31,3% -Tem dúvidas

40% -Considera-me Inocente

10% -Não sabe ou não responde 

Dos 90% que responderam:

79% não acredita na Justiça

21% acha que está cumprindo o seu papel

Estes resultados dizem-me que, afinal, não é a maioria dos portugueses quem me considera culpado. Apenas 18,7 %.

E acredito que essa percentagem diminuirá muito, à medida que este livro for sendo lido, comentado e discutido; à medida que os portugueses perceberem que é possível condenar sem provas.

Na sequência  do que acabo de dizer, lembro a interrogação que está escrita na capa: E se um dia o acusarem a si, o que vai fazer?

Termino citando Miguel Esteves Cardoso no prefácio: "Leia este livro por favor. Esqueça quem é o autor e ponha-se no lugar dele. Apanhará um grande susto. Porque poderia muito bem ser você. Todos somos renitentes a desarrumar as ideias já arrumadas e a aprofundar relatos que apenas conhecemos de forma superficial e jornalística. Leia este livro. Para poder respirar fundo. E por uma questão de Justiça"

Muito obrigado!"

Pode saber e ver mais sobre o lançamento deste livro através do blog da editora Vogais.