Por qualquer razão faltam duas folhas que contêm as fotos do nº 81 ao 88. A culpa aí não deve ser da PJ. Os nomes correspondentes estão na legenda da própria PJ. Deve ter havido uma falha quando o álbum foi digitalizado há bastante tempo. Agora não consigo recuperar essas folhas. Mas estão lá os nomes.
Apenas umas notas: Francisco Guerra nunca foi confrontado com e este álbum; JPL também não: segundo declarou em julgamento mostraram-lhe uma série de fotos e disseram-lhe que era um puzzle.
Ninguém tem conhecimento de quem é que estava nessas fotos do "puzzle" que portanto não era este álbum; ninguém identificou neste álbum a foto de Carlos Mota que aliás é das mais nítidas. Porque é que só tem duas mulheres: D. Gertrudes Nunes e D. Odete Ferreira as proprietárias respectivamente da casa de Elvas e do apartamento da Av das Forças Armadas?
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Devido ao papel desempenhado por Costa Macedo, e à maneira como ela chamou a atenção para a investigação de 1982, era quase inevitável que eu seria objecto das alegações que estavam assim a ser reunidas pela equipa de investigação.
O facto de um rapaz adolescente ter mencionado o meu nome há vinte anos teria facilmente sido esclarecido em circunstâncias normais. Mas Costa Macedo não só lembrou o facto e lhe deu importância, como também me identificou como estando numa das fotografias que ela supostamente tinha visto.
Apanhada no pânico moral induzido por Costa Macedo e pelos jornalistas da imprensa e da televisão, a Polícia Judiciária foi colocada numa situação muito difícil - pois se deixasse que um dos homens mais famosos de Portugal escapar à 'justiça', isto seria interpretado como um indício de corrupção na polícia.
Foi perante este cenário que os investigadores criaram um modelo para as alegações de que andavam à procura. Fazendo perguntas dirigidas e mostrando o seu álbum de fotografias às potenciais 'vítimas'.
Rosa Maria Mota Teixeira Mendes - A lógica da criação de um álbum, é que normalmente no, nos processos de investigação, as pessoas são, são levadas ao gabinete fotográfico da Polícia e consultam álbuns de fotografias. Com indivíduos com determinado tipo de características. Para ver se conseguem reconhecer através da fotografia o, o indivíduo que apontam como tendo sido o prevaricador. Acontece que nesta situação, não era isto que tínhamos. As indicações que existiam, é que eram pessoas públicas, políticos de renome, e tudo isso. Portanto a constituir, tinha-se que constituir uma base de trabalho. Para que fosse possível identificar, ou afastar as pessoas. E a construção do álbum teve única e exclusivamente como base a colecção de uma série de fotografias. Às vezes as que poderíamos arranjar. Também utilizámos aí, a primeira notícia que saiu relativamente a este caso, que falava de políticos, de futebolistas. E arranjamos uma colecção de fotografias para que não puséssemos a seco, as fotografias dos indivíduos indicados como, como suspeitos, não é.
Advogado - Nalgum caso foram referidas figuras públicas, e políticos e etc, não eram fotografias que constassem nos ficheiros da Polícia.
Rosa Maria Mota Teixeira Mendes - Não, não, não.
Advogado - Procuraram-nas onde?
Rosa Maria Mota Teixeira Mendes - Não ...
Advogado - Na imprensa, nos jornais?
Rosa Maria Mota Teixeira Mendes - Conforme os pudemos recolher.
Advogado - Na internet?
Rosa Maria Mota Teixeira Mendes - Retiramos alguns, alguns da, procurámos na internet, dos jornais, de revistas. Conforme os podíamos obter, porque não podíamos recorrer a outra via. Tinha que ser uma via discreta e inclusive, aqueles pedidos que nós fazíamos, porque pedimos também ao, ao Arquivo de Identificação. A qualidade é péssima, e além da qualidade ser péssima, o facto é que todos os, os pedidos que nós fazíamos ao Arquivo de Identificação, eram do conhecimento quase imediato da comunicação social.
Advogado - Portanto tiveram o cuidado de ...
Rosa Maria Mota Teixeira Mendes - De não o fazer.
(...)
Rosa Maria Mota Teixeira Mendes - Sr. Doutor, o álbum foi constituído, como disse anteriormente, com base a uma referência inicial de figuras públicas e nós tínhamos que incluir figuras públicas e não indivíduos cadastrados e constantes nos ficheiros da Polícia Judiciária. Que é a esses que nós normalmente recorremos. Depois, e face a isto ...
Advogado - Eu até aí percebo.
Rosa Maria Mota Teixeira Mendes - ... tínhamos uma panóplia, a indicação que existia era, de que eram políticos, pessoas famosas ligadas ao, ao mundo do espectáculo e da televisão ... toureiros que tentámos encontrar algumas fotografias de toureiros, não sei se chegámos a encontrar algumas, já não me lembro, mas foi extremamente difícil, porque não se pode esquecer que nós não podíamos pedir a ajuda de nenhum órgão de comunicação social, como é óbvio.
Outro aspecto da inquinação da prova recolhida pela equipa de investigação relaciona-se com a obstinada busca por figuras públicas conforme se denota no depoimento da mais experiente inspectora que constituía a equipa de investigação:
Advogado - Relativamente ao, relativamente ao Sr. Carlos Cruz, também era um suspeito importante?
Cristina Maria Pinto Correia - Se era, eu não me lembro de haver uma pergunta directa em relação ao arguido Carlos Cruz, havia se ... portanto, recordo-me de que era preciso perguntar se conheciam algumas das pessoas, se havia pessoas ... aquela expressão, de figuras públicas, portanto alguém conhecido, que fosse das relações.
Advogado - Portanto, era essa era uma pergunta que deviam fazer, se havia figuras públicas, que estava ...
Cristina Maria Pinto Correia - Se havia pessoas ... sim, sim.
Advogado - Públicas conhecidas.
Cristina Maria Pinto Correia - Pessoas públicas conhecidas, sim.
Advogado - E quais as tais outras referências que, não sendo perguntas obrigatórias, eram temas que não deviam deixar de ser abordados?
Cristina Maria Pinto Correia - Por muito que eu queira ajudar, eu não me lembro, não sei.
Advogado - Essa minuta estava dactilografada? Era uma espécie de um impresso que estava dactilografado?
Cristina Maria Pinto Correia - Sim, havia ... feito em computador.
Advogado - Sim. Dactilografado, quer dizer, estava impresso. Ainda ... quem é que lhe deu essa, essa minuta?
Cristina Maria Pinto Correia - O meu chefe, o Inspector Chefe Dias André.
(...)
Advogada - Já nos ... disse-nos, qual foi a orientação que vos foi dada em termos ...
Cristina Maria Pinto Correia - Sim.
Advogada - ... nomeadamente perguntas obrigatórias.
Cristina Maria Pinto Correia - Sim.
Advogada - O que eu pergunto é se ao longo dos 20 anos que à data já tinha em termos dos abusos, de investigação dos abusos sexuais, se isto tinha acontecido em qualquer outro processo?
Cristina Maria Pinto Correia - Não, não. Este tipo, este tipo de orientação assim, não.