Questões > 04 - Em que circunstâncias foi preso? Ia a fugir?

Fui preso à porta da casa dos meus sogros em Quarteira onde ia passar o fim-de-semana, algo que fazia com alguma frequência.

Não ia fugir! Tinha acabado de voltar do Brasil de férias. Tinha acabado de pagar centenas de milhares de Euros em impostos no mesmo dia em que fui para o Brasil. Ia passar o fim-de-semana com a família. Não tinha comigo qualquer documentação que mo permitisse fazer. Só uma muda de roupa e o meu computador portátil porque andava a trabalhar em vários projectos de TV.

Não fui revistado, nem o carro onde seguia. Nem sequer me ficaram com o telemóvel. Fui levado para Lisboa e interrogado pelo Juiz Rui Teixeira durante cerca de 30 minutos. Uma dúzia de perguntas - se reconhecia a casa de Elvas, se tive algum contacto com alunos ou ex-alunos da Casa Pia, se tinha mantido alguma vez alguma relação homossexual, se tinha estado em Elvas e quando, se conhecia os co-arguidos ou alguém que possuísse um Lotus, se mantive alguma relação sexual com alguém com menos de 18 anos, se conhecia alguém que tivesse razões para, por vingança ou ódio, referir que eu mantive relações homossexuais com crianças. Foi-me ainda perguntado o número do meu telemóvel.

Em despacho, o Juiz Rui Teixeira escreve:" face à negação, face ao simples facto que o arguido não poderia desconhecer as ocorrências (se as mesmas tivessem tido lugar, o que mantém não ter acontecido) não tinha o Tribunal de indagar mais pormenorizadamente nada pois que a resposta que se seguiria seria a mesma: nada aconteceu."

Fiquei detido por dizer a verdade!

Só 11 meses depois de ser preso é que soube que na altura da minha prisão a Polícia tinha depoimentos de 3 rapazes nos quais se relatavam dois crimes de abuso. Até lá não sabia de que era acusado, quem me acusava, em que circunstâncias, em que locais. Nada. Só sabia o que dizia a Comunicação Social cujas notícias iam reforçando na opinião pública a convicção da minha culpabilidade e tudo num ambiente de histeria nacional para a qual não contribuiu apenas a Comunicação Social.

De realçar ainda que durante toda a investigação ninguém da minha família ou das minhas relações foi ouvido pelas autoridades - eu próprio, após as questões gerais que me foram colocadas na noite da minha prisão, tentei ser ouvido e só após 1 ano de prisão é que o consegui e por ordem do Tribunal da Relação já que o Juiz Rui Teixeira se recusava a fazê-lo.

Sou o único arguido que não foi alvo de buscas: nem a casa, nem ao escritório, nem aos computadores, nada. Nem com o meu telemóvel ficaram.