Comunicação Social > Carlos Mota - Vivo e falou para o Sol

O Semanário Sol, por intermédio da jornalista Felícia Cabrita descobriu Carlos Mota, no País Basco e entrevistou-o. Segundo esta entrevista, que reproduzimos mais adiante, afinal, Carlos Mota vive no País Basco há oito anos, isto é, desde que saiu de Portugal, depois de 3 de Outubro de 2003 (existem no Processo chamadas dele, na zona da sua residência, até essa data).

Este trabalho de Felícia Cabrita vem finalmente desfazer a "lenda".

Saiba mais acerca de Carlos Mota no processo Casa Pia

Antes, no entanto, da reprodução das páginas do Sol, convém avivar a memória

É que muito se disse e especulou sobre Carlos Mota. Mas uma coisa é certa: a minha defesa sempre quis que ele testemunhasse. E nesse sentido, o meu advogado pediu mesmo ao Tribunal que pedisse ao Ministério Público que tentasse encontrá-lo, pedido que faz parte da Acta de Julgamento do dia:

Acta de 7 de Maio de 2007

DESPACHO

(...)

De seguida, pela Mma Juiz Presidente foi perguntado aos Ilustres Mandatários dos arguidos que arrolaram a testemunha Carlos Alberto Mota - arguido Carlos Cruz e Carlos Silvino se ainda mantêm interesse na audição desta testemunha, ao que, pelo Ilustre Mandatário do arguido Carlos Cruz foi dito:

o arguido Carlos Pereira Cruz continua a ter o maior interesse em que o Senhor

Carlos Alberto Mota possa ser ouvido nesta audiência de julgamento, atendendo ao facto do seu nome ter sido referido por várias das alegadas vitimas, estabelecendo supostas relações entre esse senhor e o arguido com incidência nos supostos abusos sexuais impostos neste autos.

Nesse sentido, requer-se que as autoridades policiais sejam notificadas para

informar do paradeiro em que eventualmente tal pessoa venha a ser localizada para o efeito de ser notificado. Com o objectivo de verificar todas as hipóteses de localização do Senhor Carlos Mota, requer-se que o Ministério Público seja notificado para informar se contra esta pessoa se encontra pendente algum Processo de natureza criminal e se, caso esteja, foi possível nesse(s) Processo(s) obter a localização de tal pessoa, o que se requer ao abrigo do art° 3400 do C.P.Penal, atento o manifesto interesse em o ouvir para o esclarecimento da verdade.

  

Muito se especulou sobre o paradeiro de Carlos Mota. O Correio da Manhã foi exímio em dar notícias que não eram mais do que mentiras:

Em 28 de Novembro de 2009

"Portanto, Brasil, Escócia e Bélgica. Já a revista Visão terá publicado a notícia de que Carlos Mota estava na Irlanda, chegando a publicar a foto de uma rua de Dublin onde supostamente ele viveria ou teria sido visto! "

Em 9 de Setembro de 201


 

E Fortaleza, porquê? Porque é onde vive a Marluce e a minha filha Marta. Percebem?

Em 17 de Setembro de 2010


O Dr. José Maria Martins foi mais longe: a SIC noticiou e Correio da Manhã deu seguimento à notícia descoberta por aquele advogado: Carlos Mota foi assassinado no Brasil:


E recentemente, em entrevista ao Jornal "I" o incontornável Dias André também mandou o seu palpite:

Mas afinal, que fez a PJ ou o Ministério Público quanto a Carlos Mota?

Interrogado pelo Dr. Ricardo Sá Fernandes, Dias André respondeu assim

19.06.06

R. Sá Fernandes -Há ... há relatórios de vigilâncias no processo, recordo-me de alguns, por exemplo, relativamente ao Sr. Manuel Abrantes está no processo, portanto 

Dias André-... e relativamente ...

R. Sá Fernandes -... agora relativamente, neste momento, àquilo que me preocupa na minha defesa, que é a defesa do Sr. Carlos Cruz, é relativamente ao Sr. Carlos Cruz não vejo nem plano de acções, nem relatórios de vigilâncias, relativamente ao Sr. Carlos Mora nem planos de acções, nem relatórios de vigilância?

Dias André -Pois, terá que ser o senhor director da altura a explicar porquê, porque não sei.

R. Sá Fernandes -Ou ... enfim, mas isso é feito por escrito e, portanto, estará com certeza nos arquivos da, da Polícia Judiciária?

Dias André -Com certeza, acho que sim.

R. Sá Fernandes -Bem, olhe, mas relativamente ao Sr. Carlos Mota se ... havia tanto interesse nele porque até lhe pediram relatórios de vigilância, porque é que nunca o ouviram?

Dias André -Sr. Doutor, não, não consigo, não sei responder a essa pergunta.

R. Sá Fernandes -Mas o senhor era a pessoa que, era o chefe desta ...

Dias André -Não, mas é que eu quando quis ouvir o Sr. Carlos Mota, o Sr. Carlos Mota tinha fugido e as vigilâncias não entregaram ... portanto ...

R. Sá Fernandes -Quando, quando é que o senhor quis ouvir o Sr. Carlos Mota?

Dias André -Não, não consigo situar-me no dia, Sr. Doutor.

R. Sá Fernandes -Mas ...

Dias André -Olhe ... imperceptível ...

R. Sá Fernandes -Mas há alguma nota no processo a dizer que o Sr. Carlos Mota fugiu?

Dias André  -Há, há as vigilâncias a informarem-me e a dizerem-me que o Sr. Carlos Mota deixou de frequentar a residência habitual e os locais.

R. Sá Fernandes-Mas essas vigilâncias não estão também no processo?

Dias André -Pois, isso aí transcende-me Sr. Doutor.

R. Sá Fernandes -Hum?

Dias André-Eu tive uma informação, o Sr. Carlos Mota não ...

R. Sá Fernandes -Mas ó Sr. Inspector-chefe ...

Dias André -... ausentou-se.

R. Sá Fernandes-... mas, ó Sr. Inspector, no, o senhor diz, relatórios de vigilância, não há no processo nenhum relatório de vigilância a dizer isso?

Dias André -Ó Sr. Doutor, terá que perguntar ao senhor director de Lisboa da altura ...

R. Sá Fernandes-Não, não, não, não, isso não tenho que perguntar ...

Dias André -Tem.

R. Sá Fernandes -Se o senhor diz que viu os relatórios de vigilância que não estão no processo ...

Dias André -Sr. Doutor, desculpe, as vigilância informaram-me que o Sr. Carlos Mota não estava nos locais habituais.

R. Sá Fernandes -Quando é que isso foi?

Dias André -Foi ... foi quando foram pedidos os ...

R. Sá Fernandes -Os senhores mandaram-lhe alguma notificação ...

Dias André -... não tenho, não tenho ...

R. Sá Fernandes -... mandaram-lhe alguma notificação para algum sítio?

Dias André -... não tenho, não tenho de momento presente, como compreende, dado o tempo decorrido para me situar em datas concretas, não consigo.

R. Sá Fernandes -É que há registos de chamadas do Sr. Carlos Mota pela ... pelas, pela localização das chamadas até Setembro de 2003, o Sr. Carlos Mota fez chamadas da zona onde vivia, Setembro de 2003.

Dias André -É o Sr. Doutor que está a dizer, eu não posso, não posso confirmar, nem desmentir porque não tenho, não tenho aqui elementos para contrapor.

Juiz Presidente -Qual é folhas do processo, Sr. Doutor?

R. Sá Fernandes -Ó Sr.ª Doutora, não tenho folhas do processo, mas tenho a certeza do que estou a dizer, Sr.ª Doutora.

Juiz Presidente -Pronto, então é afirmação do Sr. Doutor ...

R. Sá Fernandes -É.

Juiz Presidente -... que neste momento não pode ser confirmada.

R. Sá Fernandes -É afirmação minha, confirmada por mim ... portanto, relativamente ao Sr. Carlos Mota não há plano de acção, não há relatórios de vigilâncias, não há, nunca houve nenhuma notificação para o ouvir?

Dias André -Não tínhamos, quando tínhamos elementos para, para o constituir arguido, ele não foi localizado, é o que eu sei.

R. Sá Fernandes -Desculpe, as pessoas podem ser notificadas para ir aos sítios, por, por carta, por ...

Dias André -Sr. Doutor, eu sei, o código do processo penal é claro nos métodos de notificação.

R. Sá Fernandes -Mas não há nenhuma, não há qualquer rasto de que tenha sido feita qualquer diligência nesse sentido?

Dias André -Sr. Doutor, contra isso não posso fazer nada.

(.......)

R. Sá Fernandes -Agora, esses pedidos de vigilância ao Sr. Carlos Mota foram antes ou depois da prisão do Sr. Carlos Cruz?

Dias André -Foram feitos em simultâneo, eu penso que foi antes, 1 dia antes, 2 dias antes, foi antes, foram em simultâneo.

R. Sá Fernandes -Em simultâneo com a prisão?

Dias André -Em simultâneo com, com o Sr. Carlos Cruz, foram os dois pedidos em simultâneo.

R. Sá Fernandes-Ah, em simultâneo com o pedido do Carlos ...

Dias André -Exactamente.

R. Sá Fernandes -... do Sr. Carlos Cruz?

Dias André -Exactamente.

R. Sá Fernandes -1 ou 2 dias antes, é?

Dias André -Admito que sim, Sr. Doutor.

Juiz Presidente -E confrontar para?

R. Sá Fernandes -Sr.ª Doutora, é que parece, que quem achou que não havia fortes indícios de que o Sr. Carlos Mota estivesse envolvido neste processo transportando menores abusados até aos seus abusadores, foi o Dr. Rui Teixeira.

Juiz Presidente -Portanto, há um despacho de folhas 1887 em que na sequência da promoção de folhas 1835, duma promoção do Ministério Público em que é pedida uma intercepção e em que está indeferida a intercepção. E?

R. Sá Fernandes -Dizendo que analisados os autos, não vislumbramos onde é que existem os ...

Juiz Presidente -Sr. Doutor, está aqui o despacho, é público, qual é a questão em relação a esta testemunha?

R. Sá Fernandes -A questão é que perguntei ao Sr. Inspector-chefe se o facto de não se ter feito nenhuma diligência mais concreta relativamente ao Doutor, ao Sr. Carlos Mota não teria resultado de nenhuma determinação, de nenhuma avaliação feita por outrem?

Juiz Presidente -Para não o ouvirem, foi o que o Sr. Doutor disse.

R. Sá Fernandes -Sim.

Juiz Presidente -Que ele tinha presente este despacho, e o senhor disse que não, que não foi nenhuma determinação.

R. Sá Fernandes -Não, não, mas agora ...

Juiz Presidente -Portanto, isto é um pedido de uma intercepção telefónica, Ministério Público, Juiz indeferiu.

R. Sá Fernandes -Ó Sr.ª Doutora, mas esse ... Sr.ª Doutora, peço desculpa, mas este pedido de intercepção telefónica diz mais do que sobre, sobre a intercepção telefónica e pode ser que o Sr. Inspector-chefe confrontado com isto ...

Juiz Presidente -Tem, tem conhecimento ... tem conhecimento, então responder em relação a alguma intercepção telefónica, se tem conhecimento?

Dias André -Não tenho, Sr.ª Dr.ª Juiz.

 

26.06.06

R. Sá Fernandes -Pronto, e então, finalmente uma última pergunta que tem a ver com a instância do ... Dr. José Maria Martins sobre o Sr. Carlos Mota e agora também com esta questão que, com este documento que foi confrontado o Senhor...

Juiz Presidente -Folhas 6688.

R. Sá Fernandes -6688 ... diz a folhas 6688 que em Junho se fizeram umas vigilâncias e que se, e que se verificou que em Junho que ele não tinha ido à casa, podemos retirar daqui que até Junho não foi feita nenhuma vigilância ao Sr. Carlos Mota?

Dias André -Eu não, não, não ... não retiraria essa conclusão porque este elemento é-me dado pelas vigilâncias, não sei o que fizeram, o que me disseram é o dado que tínhamos era esta residência, foi ali que incidiu e a informação que foi transmitida foi essa que eu transmiti para os autos.

R. Sá Fernandes -Mas a sua informação refere-se só ao mês de Junho?

Dias André -E refere que até ali o plano de acção, a desenvoltura do plano de acção é da responsabilidade das vigilâncias, portanto e o que me é dado a conhecer é nessa data, é-me dito que ele não estava, até porque havia serviços prioritários, certamente pode ser uma das causas, não sei, desconheço em absoluto mas nessa data é-me dada a informação ...

R. Sá Fernandes -Mas ó Sr. Inspector Dias André ali refere concretamente que em Junho fizeram lá vigilâncias de dia e de noite, não refere outras...

Dias André -Sim.

R. Sá Fernandes -... ora como o Sr. Carlos Mota é, enfim, noticiado neste processo em Fevereiro, como ... enfim, se há alguma explicação que possa dar ou não há, para de Fevereiro até Junho não terem feito nenhumas vigilâncias concretas ao Sr. Carlos Mota?

Dias André -As responsabilidades das vigilâncias não era minha, como eu já referi ao tribunal, portanto não sei o que é que se passou, ou porque é que foi feito assim.

 

É bem claro que Dias André não fazia a mínima ideia do que deveria dizer. E é tudo tão simples: depois da notícia da SIC sobre Carlos Mota e um processo que teve em Odemira, Francisco Guerra diz a Dias André que Mota também estava metido no "esquema" da Casa Pia, de Elvas e até da Av das Forças Armadas. O Juiz Rui Teixeira não acredita. Mota está em casa até Outubro de 2003. A pressão da Comunicação Social leva Dias André a tentar meter Carlos Mota no assunto, o próprio MP parece que depois abre um inquérito de lenocínio e tudo não passa de mais uma enorme fantasia da investigação! Dias André baralha-se todo: diz que deu ordens para vigilância a mim e ao Mota no mesmo dia ou dois dias antes... eu sou preso em 31 de Janeiro (sem qualquer relatório de vigilância) e Mota só é vigiado em Junho e teria desaparecido?!

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E agora a qui fica a entrevista de Felícia Cabrita publicada no semanário SOL

 

 

 

 

 

E afinal, a célebre frase que tanta tinta fez correr (Se o Carlos Cruz é pedófilo, eu também sou), foi uma frase que Carlos Mota tinha ouvido proferida pelo António Macedo, na TSF. Ele o diz na entrevista. Como aliás eu próprio ouvi, nessa mesma manhã, o mesmíssimo António Macedo dizê-la no programa da Fátima Lopes, na SIC!

Está esclarecida a paternidade da expressão, 8 anos depois.