Comunicação Social > Comunicação Social - 2

Depois do primeiro artigo sobre a comunicação social, aqui está o segundo. No primeiro é evidente a forma como a comunicação social influenciou os depoimentos das vítimas: todos os arguidos foram indicados depois de os seus nomes aparecerem na imprensa e/ou na TV.


No dia da minha prisão, a TVI, lança as declarações das vítimas que tinha em carteira. A TVI sempre disse ter destruído os vídeos em bruto (sem edição) - muitas vezes solicitados pelo tribunal e pelas defesas. Já aqui mostrei alguns dos vídeos dessa altura, aqui fica outro:

 

As primeiras declarações pertencem a JPL (actualmente preso no Brasil e uma das principais testemunhas do processo) em declarações à TVI, primeiro,  e, depois, no local (casa de Elvas) passados dois anos, onde diz exactamente o contrário.O resto reafirma o conjunto de mentiras.

É uma "mentirinha". Se juntarmos a isto os vídeos aqui publicados, os leitores minimamente de boa-fé, que fazem da presunção de inocência um valor do Estado de Direito, terão muito que pensar sobre as sentenças, num Acórdão onde o Tribunal reconhece não existir nenhuma prova e que altera datas a seu bel-prazer por simples pedido do Ministério Público.

Se no primeiro artigo sobre a comunicação social podemos depreender que o objectivo era o de influenciar testemunhas, logo após a minha detenção o objectivo passa a ser outro - convencer os portugueses da minha culpabilidade.

Teve também como objectivo manter-me na cadeia além de meter à martelada na cabeça das pessoas a ideia de que eu era de facto culpado.  Mas aí, não foi apenas a comunicação social: foi também a Ministra da Justiça de então , a Drª Celeste Cardona (posteriormente nomeada Administradora da Caixa Geral de Depósitos) que me proibiu de falar publicamente e para os media, com um despacho que foi considerado ilegal pelo Supremo Tribunal Administrativo. O mal estava feito.

Celeste Cardona foi objectivamente cúmplice deste massacre. Não me permitiu defender na praça pública, onde estive a ser julgado e... condenado.

E o que há de comum entre Cardona, Bagão Félix, Catalina Pestana, Pedro Strecht, Teresa Costa Macedo, Souto Moura e outros personagens que intervieram no Processo ou que o influenciaram, desde jornalistas a membros  do Conselho Técnico Científico encarregado de estudar a reestruturação da Casa Pia, presidido pelo Engº Roberto Carneiro (Despacho nº 8495/2003 (2ª Série) publicado no Diário da República - II Série publicado em 2 de Maio de 2003)?

Voltemos à comunicação social.

Era preciso formar na opinião pública a convicção da minha culpabilidade. Fala-se em escutas, vigilâncias, imagens e vídeos. Não há no Processo uma única escuta, nem um único vídeo, nem qualquer fotografia, nem nenhum relatório de qualquer vigilância sobre mim. Aliás a falsidade destas notícias foi confirmada em tribunal pelos seus autores mas os jornalistas que as escreveram não revelaram as "fontes".

Diário de Notícias de 4 de Fevereiro de 2003 - "Imagens incriminam Carlos Cruz"... Completamente falso!

Correio da Manhã de 7 de Fevereiro de 2003: "clima infernal arrasa Carlos Cruz e Bibi, o apresentador já nem sai da cela, Carlos Silvino sovado à chegada foi transferido" ... tudo falso;

Expresso de 8 de Fevereiro de 2003: "escutas e vigilância dos suspeitos foram decisivas"... não houve escutas nem vigilâncias, pelo menos registadas no processo, nem a mim nem aos outros arguido então detidos;

"Contradições perigosas, Carlos Cruz, Dinis, e Marçal foram apanhados em contradição",... como é possível ser apanhado em contradição se não fui ouvido sobre nada de concreto? Estive meses a pedir para ser ouvido, uma e outra vez os meus pedidos foram negados pelo Juiz Rui Teixeira indo contra o próprio Código do Processo Penal que afirma que o arguido tem o direito de ser ouvido a seu pedido em qualquer altura do Processo.

Diário de Noticias de 9 de Fevereiro de 2003: "Escutas foram fulcrais"

Durante esses dias, tentou-se também criar um mito de fuga e que eu tinha transferido todo o meu dinheiro para o Brasil (Jornal Público), que estava numa lista de pedófilos do FBI (Diário de Notícias). Os jornalistas publicaram. Também nestes casos a falsidade das notícias foi reconhecida mas os seus autores recusaram-se a revelar as "fontes".

Pelas célebres cassetes de Octávio Lopes sabe-se quem eram algumas das fontes. Era preciso preencher uma história que estava a ser inventada e qualquer argumento servia. Alguns jornalistas prestaram-se a isso, possivelmente de boa fé.

Mas chegou-se ao surrealismo: Rosa Mota, coordenadora e responsável da equipa de investigação disse a Octávio Lopes (está numa das celebres cassetes) que era possível o Herman José ir ao Rio de Janeiro, voltar a Lisboa, abusar de um rapaz dentro de um carro e voltar para o Rio de Janeiro tudo no mesmo dia!

Quem levou os jornalistas a escreverem tudo isto? (O livro de Richard Webster, quase a ser publicado, analisa exemplarmente este fenómeno da criação do "pânico moral". Historicamente, como fenómeno em si e suas causas)

O leitor descobriu alguma notícia verdadeira no primeiro artigo? E no segundo?

Baseado nas mentiras que a própria comunicação social encorajou nalguns casos e criou noutros, este processo dominou a imprensa e a actualidade portuguesa durante vários anos e mudando para sempre o jornalismo em Portugal. O documento que se segue foi junto ao processo a meu pedido. É uma analise às referências feitas ao processo e ao meu nome na rádio e na televisão desde finais de 2002 a Janeiro de 2004.

São dados interessantes que mostram não só o tempo dedicado à emissão de noticias mas que serve também como indicador dos recursos utilizados na cobertura e produção deste processo, também apelidado como novela da vida real. 

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