Processual >

Não tenho provas concretas que corroborem o que penso. Mas numa história tão fantasiosa como esta, não é difícil aceitar, pela afirmação de todos (Carlos Silvino incluído) de que entravam pela porta das traseiras, que a imaginação fértil de Francisco Guerra tenha apontado para ali porque essa porta e aquele prédio vêem-se da casa de Carlos Silvino: é do outro lado da rua. A muito custo, em Tribunal, Francisco Guerra teve que confessar que da tal porta se via "o bairro social onde morava o Carlos Silvino".

A vermelho - A referida casa da Av. das Forças Armadas

A azul - A casa de Carlos Silvino a uma distância de pouco mais de 100 metros

E porquê aquele apartamento no 2º andar? Isso é mais simples de entender: apontado o prédio, a PJ leva lá FG para identificar o andar e o apartamento. Entram pela frente uma vez que a porta traseira estava fechada a cadeado e vão subindo as escadas. Quando chegam ao 2º andar, Francisco Guerra repara que uma das portas dos apartamentos é diferente das outras. Estava escolhido o andar porque tinha aquele pormenor de que ele se "lembrava muito bem".

Aquela porta, que é ao lado do apartamento onde se teriam passado os factos, só é diferente desde Outubro de 2001 quando os proprietários fizeram obras (apresentaram toda a documentação comprovativa dessas obras que se encontra no processo).

Ora os "crimes" teriam sido cometidos em finais de 99, princípios de 2000.

A Policia não se deu ao trabalho de indagar porque é que a porta era diferente, desde quando, nem de ouvir ninguém no prédio excepto a enfermeira e a porteira do prédio - a enfermeira que viria a falecer semanas depois era a proprietária do apartamento onde se teriam passado os factos e por razões de saúde não saia de casa há bastante tempo. Ambas negam ter conhecimento da minha presença no edifício.

Quanto aos agentes da Policia Judiciária em relação a este apartamento dizem o seguinte:

Advogado  -  Muito bem. Ou ... outro aspecto tem a ver com o seguinte, nas várias buscas que fazem, digamos, que já me referenciou, a uma casa na Avenida das Forças Armadas, houve algum pormenor que tenha ressaltado, digamos, no essencial, fazem uma ida ao local, uma ... uma ... referenciado o local, uma recolha, digamos, de elementos do ... do local, é isso, objectivamente, que se passa, mas encontram as casas vazias, encontram as casas ocupadas, o que é que ...  

Rosa Maria Mota Teixeira Mendes  - A busca das Forças Armadas, foi uma coisa com ... uma ... uma busca estranhíssima, porque a senhora que lá residia, que era uma enfermeira parteira reformada, abriu-nos a porta, disse-nos, estejam à vontade, eu vou-me deitar.  

Advogado - Mas sabia que era a polícia?  

Rosa Maria Mota Teixeira Mendes  - Sabia que era a polícia.  

(...)

Advogado - Recorda-se de ter feito esta diligência? 

Cristina Maria Pinto Correia  - A busca naquela morada, sim. 

Advogado - Sim. 

Cristina Maria Pinto Correia  - Das Forças Armadas, sim. 

Advogado  - Foi dado início à diligência ... estava lá a dona da casa? 

Cristina Maria Pinto Correia  - Estava, era uma senhora idosa. Uma senhora idosa, sim, recordo-me. Sim, estava. 

Advogado - Falaram com ela? 

Cristina Maria Pinto Correia  - Sim. 

Advogado - Explicaram ao que é que iam, o que é que iam à procura? 

Cristina Maria Pinto Correia  - O objectivo da busca? 

Advogado  - Hum. 

Cristina Maria Pinto Correia  - Encontrar algo na residência que pudesse relacioná-la com o objecto do processo na altura. 

Advogado  - E encontraram? 

Cristina Maria Pinto Correia  - Eu não, pessoalmente não encontrei nada que pudesse levar a suspeitar no momento.

O leitor concluirá.

Quanto a testemunhas, mais uma vez foi necessário que a defesa as chamasse. A investigação limitou-se a ouvir uma vez a D. Odete Ferreira que vivia no apartamento e que veio a falecer e, brevemente, a D. Rosa Lima, encarregada da limpeza do prédio. Mais ninguém. Zero. Idêntico ao que fez em Elvas.

Estes depoimentos são, assim, de testemunhas arroladas pela defesa, e foram prestados, à excepção de dois deles, em Tribunal.

Maria Odete Ferreira em inquérito a 25 de Fevereiro 2003

Residente, entretanto falecida, do apartamento em questão na Avenida das Forças Armadas - 2ºEsq.

 

Questionada, respondeu que, desde que começou a residir sozinha na morada em causa, nunca cedeu o espaço a ninguém a qualquer título. Desde que vive sozinha, nunca subalugou um quarto ou convidou alguém a partilhar de novo a sua casa consigo.

Não tem amigos ou familiares que a visitem com filhos ou miúdos pequenos ou jovens adolescentes.

 

José Alberto Machado em a.j. a 9 de Novembro de 2006

Vizinho do lado do apartamento em questão na Avenida das Forças Armadas - 2º Dto       

  

R. Sá Fernandes - Alguma vez recebeu nessa casa ou viu no prédio onde se situa  essa casa o Sr. Carlos Cruz?

José Alberto Machado - Nunca

R. Sá Fernandes - Essa divisão onde está essa tal empresa, essa porta que dá para o hall está habitualmente fechada, aberta ou encostada?

José Alberto Machado - Costumam estar fechadas, costumam estar fechadas porque vejo pessoas a tocar a campainha para entrar,  mesmo os próprios funcionários da empresa.

R. Sá Fernandes - Em qualquer dos casos esteja fechada ou as vezes aberta ou as vezes encostada esse local é um local de passagem para ir para as traseiras ou é apenas um local afecto aquela fracção?

José Alberto Machado - Aquilo é um prédio de apartamentos construído há cerca de 60 anos pela Gulbenkian para as enfermeiras do Hospital Sta Maria que depois foi privatizado e que depois algumas delas pelo ciclo da vida foram morrendo e foram se afastando e foram sendo alugados a escritórios e os escritórios que la funcionavam tinham as portas fechadas

R. Sá Fernandes - A pergunta era se esse espaço onde fica essa empresa é um espaço de passagem que habitualmente as pessoas utilizem para passar para o outro lado ou se pelo contrario e um espaço utilizado por aquela empresa e privado daquela empresa

José Alberto Machado - Em 18 anos que lá vivo nunca vi como espaço de passagem de ninguém. Admito que haja intrusos como há em todo a parte mas portas abertas de passagem nunca vi lá ninguém .

José Maria Martins - Olhe uma coisa ou será em 2003? Depois do escândalo rebentar que o Sr. Carlos Cruz lhe pediu para alterar a porta, isto é uma pergunta, que o Sr. Carlos Cruz lhe pediu para alterar a porta para confundir quem fosse fazer a investigação?

José Alberto Machado - O Sr. Carlos Cruz nunca pediu rigorosamente nada. Aquelas obras foram feitas 2001/2002 posso estar enganado no ano, não foram feitas de certeza absoluta antes do ano 2000, por uma razão muito simples, na altura não tinha condições financeiras para as fazer e o Sr. Carlos Cruz nunca me pediu rigorosamente nada

  

Mª Isalina Machado em a.j. de 23 de Novembro de 2006

Vizinha do lado do apartamento em questão na Avenida das Forças Armadas - 2º Dto       

 

R. Sá Fernandes - Sra. D. Maria Isalina Machado, a senhora alguma vez viu pessoalmente o Sr. Carlos Cruz?

Maria Isalina Machado - Não.

R. Sá Fernandes - Conhece-o apenas da comunicação social?

Maria Isalina Machado - Exactamente.

R. Sá Fernandes - A Sra. D. Maria Isalina vive na Av.ª das Forças Armadas, n.º 111, 2.º andar direito.

Maria Isalina Machado - Sim, 2.º dto..            

R. Sá Fernandes - A Sra. D. Isalina alguma vez viu o Sr. Carlos Cruz no prédio onde habita?

Maria Isalina Machado - Não.

R. Sá Fernandes - E dessas conversas que teve com a porteira, ela o que é que ela lhe dizia sobre esses rumores de que o Sr. Carlos Cruz tinha lá ido?

Maria Isalina Machado - As pessoas ficaram indignadas porque nunca se viu ninguém, nem ninguém que parecesse que estava disfarçado, nunca se viu ninguém do género, mas pronto... eu sei por aquilo que vi e nunca vi nada.

 

Filha do casal - email enviado e exposto no site www.processocarloscruz.com

Vizinha do lado do apartamento em questão na Avenida das Forças Armadas - 2º Dto       

 

Deixe-me apresentar sou (...),e sim morava no 2ºdto da Av. das forças Armadas lote-3 (actual nº111), curiosamente porta ao lado com a acusação (...) com a acusação mesmo ao lado da nossa porta, mais o ficámos a saber. Na altura penso que devia ter uns treze anos, e como qualquer adolescente entrava e saia, sentava-me com amigas a conversar horas a fio á porta do prédio, saia até as quatro da manhã e ao chegar a minha mãe já estava à janela, e durante todo o tempo em que vivi nesse apartamento nunca, mas nunca vi algo que pudesse ser suspeito! Quanto muito seriam os meus amigos que entravam e saíam.

 

Maria Isabel Dias em a.j. de 14 de Dezembro de 2006

Inquilina do prédio da Avenida das Forças Armadas há mais de 20 anos. - fls 42605 a 42613

 

R. Sá Fernandes - Alguma vez a senhora ou alguma dessas pessoas que trabalha para si viu no prédio o Sr. Carlos Cruz?

Maria Isabel Dias - Não. Nunca ninguém viu o Sr. Carlos Cruz em sítio nenhum naquela zona, que eu conheça... As pessoas que eu conheço, nunca ninguém viu o Sr. Carlos Cruz.

R. Sá Fernandes - A Sr.ª conhece pessoalmente o Sr. Carlos Cruz?

Maria Isabel Dias - Não conheço pessoalmente o Sr. Carlos Cruz.

R. Sá Fernandes - Alguma vez as pessoas com quem a senhora ...que trabalham para si... ou com quem a senhora trabalhou nestes anos, lhe disse, depois deste escândalo rebentar,  que de facto tinha visto ali o Sr. Carlos Cruz?

Maria Isabel Dias - Nunca!

R. Sá Fernandes - alguma vez foi feita alguma referência a uma fracção, designadamente, esse que fica em frente à sua Fracção do segundo andar ... onde houvesse encontros jovens suspeitos que frequentassem o prédio?

Maria Isabel Dias - Não faço ideia do é que está a falar....estou lá há 20 anos....já disse isso da ultima declaração... Nunca ouvi, nunca foi comentado. Conheço "N" pessoas que sobem e descem...até porque aquilo funciona em fornecedores que sobem e descem.....por isso nunca conheci...nunca ouvi falar. Vou almoçar ao Pátria do Sr. Manuel hà vinte e tal anos...Nunca foi comentado. Não sei mais o que possa dizer sobre o assunto.

Ramiro Miguel - miúdos de 18...acima dos 18...abaixo dos 18...

Maria Isabel Dias - Não...ali trabalha-se...é gente de trabalho. Suponho que haja a tal criança...que acho que nunca a vi...não. Estou ali há 20 anos, saio ás 2 da manhã... saio às 3, entro às 10, saio ao meio dia. Ainda por cima sou uma pessoa que, pela actividade que desenvolvo, sou uma pessoa que tem horas histriónicas. Nunca se deu nada naquele prédio que não se dê no meu. Nunca vi uma pessoa a entrar com uma criancinha pela mão. Nunca vi! Nunca aconteceu nada.

 

Henrique Machado em a.j. de 2 de Novembro de 2006

Vizinho do prédio da Avenida das Forças Armadas - de 95 a 98 residiu no rés-do-chão esquerdo, posteriormente mudou-se para o quinto andar em 98

  

R. Sá Fernandes - Alguma vez viu no prédio o Sr. Carlos Cruz?

Henrique Sousa Machado - Não, nunca vi no prédio o Sr. Carlos Cruz.

R. Sá Fernandes - Para além do senhor não ter visto nunca lá o Sr. Carlos Cruz, alguma vez alguém lhe disse que tinha visto lá o Sr. Carlos Cruz?

Henrique Sousa Machado - Não, ninguém me disse que lá tinha visto o Sr. Carlos Cruz.

José Maria Martins - O senhor não era amigo do Sr. Carlos Cruz?

Henrique Sousa Machado - Não, não era.

José Maria Martins - O senhor nunca trabalhou na RTP?

Henrique Sousa Machado - Não, nunca trabalhei na RTP.

Procurador - Depois do escândalo ter rebentado alguém do prédio fez qualquer tipo de comentário relacionado com este processo?

Henrique Sousa Machado - Não.

Procurador - Ninguém?

Henrique Sousa Machado - Não.

Procurador - Nunca ninguém falou sobre isto?

Henrique Sousa Machado - Falaram mas no sentido de admiração, de dizer que existe um processo que fala sobre isto e que diz que se passa isto e se passa aquilo, mas não há nenhuma informação fora desse processo que me permita concluir ou adicionar informação para aquilo que é veiculado pela comunicação social.

 

Miguel Machado em a.j. de 25 de Junho de 2007

Vizinho do prédio da Avenida das Forças Armadas - desde de 2003/2004 residente no primeiro andar. Antes vivia no quinto andar com os pais.

  

R. Sá Fernandes - Alguma vez viu no prédio algum destes senhores que estão sentados à sua frente e que são arguidos neste processo?

Miguel  Sousa Machado - Não.

Juíza - Ou o senhor que está à sua esquerda? Nunca viu?

Miguel  Sousa Machado - Não.

R. Sá Fernandes - Alguma vez alguém lhe disse que o Sr. Carlos Cruz frequentava ou tinha sido visto no seu prédio?

Miguel  Sousa Machado - Não.

R. Sá Fernandes - Quando este processo rebentou e o vosso prédio foi identificado como um prédio onde alegadamente teriam sido cometidos certos actos de natureza sexual, presumo eu que o Sr. Sousa Machado e outras pessoas tenham falado sobre este assunto! E a pergunta que eu lhe faço é se alguém lhe disse alguma vez que tinha visto o Sr. Carlos Cruz no prédio, em algumas circunstâncias?

Miguel  Sousa Machado - Não, nunca.

 

Rosa Castro Lima em a.j. de 31 de Janeiro de 2007

Responsável pela limpeza do edifício da Avenida das Forças Armadas que socorreu a proprietária do 2º Esquerdo quando esta adoeceu.

  

R. Sá Fernandes - Olhe Sra. D. Rosa Lima, alguma vez viu lá o Sr. Carlos Cruz?

Rosa Lima - Não, senhor.

R. Sá Fernandes - Alguma vez alguém lhe disse que tinha visto lá o Sr. Carlos Cruz?

Rosa Lima - Não, senhor.

R. Sá Fernandes - E um senhor que não está cá hoje, que é o Sr. Carlos Silvino, muitas vezes conhecido por Bibi, alguma vez o viu lá?

Rosa Lima - Nunca.

R. Sá Fernandes - Portanto... e dessa conversa que teve com ela, ela, portanto, quando a senhora disse é droga e ela não é pedofilia, pior ainda, mas disse isso com um ar de quem estava a assumir que lá tinha havido pedofilia em casa dela?

Rosa Lima - Não, ela diz que quem não deve não teme!

R. Sá Fernandes - Disse ela?

Rosa Lima - E como ela estava muito doente, ela para ela tanto se dá como se deu!

R. Sá Fernandes - Porque ela não tinha nada a temer, é?!

Rosa Lima - Sim, porque ela disse: Quem não deve não teme, e como eu estou tão mal, tanto se me dá como se me deu.

 

Manuel Moreira em a.j. de 20 de Novembro de 2006

Proprietário do café Pátria na esquina do edifício em questão.

  

R. Sá Fernandes - Alguma vez o sr. viu nesse estabelecimento, ou do estabelecimento, alguma viu o sr. ali ao longo destes anos o sr. Carlos Cruz?

Manuel Moreira - Não.  Nunca vi o sr. Carlos Cruz ao vivo ali. Vi-o dentro da televisão porque a gente tem uma televisão lá dentro, é provável que já o tenha visto até mais do que uma vez. Mas ao vivo eu nunca o vi ali.

R. Sá Fernandes - Os seus sócios ou alguns clientes seus, ao longo destes anos alguma vez lhe disseram que tinham visto ali o sr. Carlos Cruz?

Manuel Moreira - É pá, oiça, eu lá dentro, eu com os sócios não falo desses assuntos

R. Sá Fernandes - Eu não lhe perguntei isso. Perguntei se alguma vez algum sócio lhe disse

Manuel Moreira - Não, nunca ouvi, mas não... oiça, é assunto que para mim eu estou aqui porque para falar a verdade e à Justiça, com os meus sócios nunca se proporcionou nunca falámos, nunca se falou desse assunto.

R. Sá Fernandes - Tá bem . Portanto não há de  nenhum dos seus sócios  nenhuma referência a terem visto o sr. Carlos Cruz

Manuel Moreira - Que eu saiba não.

R. Sá Fernandes - O sr. nunca viu

Manuel Moreira - Eu nunca vi!

 

Luís Albergaria em a.j. de 15 de Novembro de 2006

Proprietário da empresa Gestran que opera no rés-do-chão do edifício da Avenida das Forças Armadas.

  

R. Sá Fernandes - tem sido aqui dito que o sr é muito amigo do sr Carlos Cruz.

Luís Albergaria- Pois mas não sou. Não conheço o sr Carlos Cruz nem pouco, nada, zero. Disse-lhe pela primeira vez bom dia quando vínhamos os dois a entrar porque entrámos ao mesmo tempo. Boa tarde, mais precisamente.

R. Sá Fernandes - Hoje?

Luís Albergaria- Hoje. Nunca troquei qualquer palavra com o sr Carlos Cruz.

R. Sá Fernandes - Portanto a afirmação de que o senhor era amigo dele... é falsa.

Luís Albergaria- É falsa.

R. Sá Fernandes - Quanto à sua mulher? A sua mulher trabalhou

Luís Albergaria- Se não se importar... eu vim documentado para depois não ser só

Juíza - A que elementos é que se está a referir? (...) Esse elemento que está a consultar é o quê?

Luís Albergaria- As datas, as datas. Vão-me perguntar se a minha mulher trabalhou e eu tenho aqui as datas em que ela trabalhou.

Juíza - Trabalhou onde?

Luís Albergaria- Na CCA, na empresa do sr Carlos Cruz. É isso que é relevante, penso eu. Se não for relevante guardo novamente.

Juíza - E como é que sabia que lhe ia ser perguntado isso?

Luís Albergaria- Srª Drª porque uma das queixas crime que eu tenho é por falsas declarações prestadas precisamente sobre este assunto. É natural que me perguntassem.

Juíza - E o senhor foi documentar-se, buscar elementos para vir hoje prestar depoimento?

Luís Albergaria- Precisamente.

Juíza - Conhecimento que o senhor tenha da vivência que tem com a sua mulher.

Luís Albergaria - Pronto. Da vivência  que tenho com a milha mulher ela trabalhou com a CCA entre o ano de... nos anos pelo menos 93, 94 e 95 tendo um intervalo entre 93 e 94.

Juíza - E do que são factos da sua vivência e do que se lembrar da sua vivência vou pedir agora para pôr os elementos de lado e para ir respondendo com o que se lembrar de memória. Quando for preciso algum auxílio de algum documento, nessa altura pedirá ao Tribunal. Obrigada. Sr Dr. pode prosseguir.

R. Sá Fernandes - (...) 93, 94 e 95. Depois de 95 sabe se ela manteve algum relacionamento profissional ou social  com o sr Carlos Cruz?

Luís Albergaria - Não.

R. Sá Fernandes - Como é que sabe?

Luís Albergaria - Nunca mais vimos. A minha mulher nunca mais trabalhou em televisão nem trabalhou em mais nada. A minha mulher não trabalha desde essa altura.

R. Sá Fernandes - Portanto relação profissional ou social a partir de 95 da sua mulher com o Carlos Cruz não existiu desde 95. Olhe: desde que este processo foi desencadeado, o sr Carlos Cruz ou a mulher dele ou os seus advogados alguma vez contactaram a sua mulher no seu sentido de depor ou dizer alguma coisa neste Tribunal, no Tribunal de Instrução Criminal ou outro qualquer?

Luís Albergaria - Não.

R. Sá Fernandes - Nunca foi contactada...

Luís Albergaria - Nunca.

R. Sá Fernandes - Só mais duas perguntas. O Sr. nunca lá viu o Sr. Carlos Cruz no prédio?

Luís Albergaria - Nunca vi o Sr. Carlos Cruz no prédio.

R. Sá Fernandes - Nem nunca ouviu nenhuma referência ao Sr. Carlos Cruz?

Luís Albergaria - Nunca ouvi nenhuma referência ao Sr. Carlos Cruz.

 

Estarão também aqui todas estas pessoas a mentir, vizinhos, comerciantes, empregados, etc?

O Tribunal condena-me por 2 crimes que não cometi, no nº 111 da Av das Forças Armadas. Diz o Acórdão:

106. Em Dezembro de 1999 ou Janeiro de 2000, em dia em concreto não determinado, o arguido Carlos Silvino da Silva, por contacto não concretamente apurado, levou a uma residência sita na Avenida das Forças Armadas, numa fracção do prédio correspondente ao Lote 3, nº. 111, em Lisboa, dois menores da CPL, onde se encontrava o arguido Carlos Pereira Cruz, a fim de este os sujeitar à prática de actos sexuais consigo.

106.1. O arguido Carlos Silvino, no dia em causa, falou com o JPL e levou-o, bem como o assistente LM

106.2. LM  à data com 13 anos de idade, foi então levado nesse dia à noite,

juntamente com o menor JPL, pelo arguido Carlos Silvino, à residência referida, utilizando um veículo

106.12. Decorridos cerca de um ou dois meses, o arguido Carlos Silvino, por contacto não concretamente apurado, voltou a levar novamente ao arguido Carlos Pereira Cruz e à morada mencionada, um menor da CPL, a fim de o arguido Carlos Cruz o sujeitar à prática de actos sexuais.

106.13. Na sequência desse pedido, o arguido Carlos Silvino contactou outra vez o menor LM, ainda com 13 anos de idade, que novamente levou à mesma casa.

106.19. O arguido Carlos Cruz admitiu que o menor que sujeitou à prática dos actos sexuais descritos tinha idade inferior a 14 anos.

Tudo isto é FALSO!

Mas vale a pena sublinhar:

1- Como é que num julgamento destes com tanta "ressonância da verdade" não houve ninguém que esclarecesse os juízes como é que foi contactado o Carlos Silvino e os assistentes? Nem eles o revelaram?

2- Mas o Tribunal deu  como provado uma coisa notável: os rapazes foram... num veículo: carro, mota, bicicleta, táxi, barco, helicóptero? A pé não foram!

3- Dia indeterminado (sem pelo menos informar se foi ao fim de semana ou durante a semana) de um de dois meses (Dezembro ou Janeiro) de um de dois anos (1999 ou 2000)!!!

4- É falso que eu alguma vez tenha admitido saber a idade fosse de quem fosse. Dizem-me que é uma tecnicidade jurídica. Mas é falso. Não há uma única pergunta que me tenha sido feita sobre o tema nem nenhuma resposta minha ou mesmo qualquer alusão, em todo o processo. Como é que eu sabia a idade de pessoas que nunca tinha visto?

É evidente que só sublinho estes pormenores para que se perceba o funcionamento mental do Tribunal para condenar cidadãos. É uma afirmação que não corresponde à verdade e de que certa Comunicação Social gosta muito.

5- Mais, a dona do apartamento em questão sempre negou qualquer envolvimento e/ou conhecimento de que algo de estranho se passasse no seu próprio apartamento até à altura da sua morte, os seus vizinhos e habitantes do prédio negam lá me ter visto ou sequer lá ter visto algum jovem ou o Carlos Silvino e eu nego também - como é que um tribunal dá estes factos como provados?

6- Carlos Silvino e Francisco Guerra falam de holofotes, e barulho de máquinas e pessoas mas nenhum dos habitantes do prédio refere ter ouvido barulhos suspeitos ou movimentação deste tipo de material nem para este nem para outros apartamentos do prédio... não só os factos não são corroborados por ninguém como são contraditórios entre si - como é que é possível falar-se em ressonância da verdade?

7-  O Tribunal apoia o seu Acórdão no facto de Carlos Silvino corroborar as versões cheias de "ressonância da verdade". LM de facto diz que foi as duas vezes depois de jantar. Francisco Guerra diz que foi ao fim da tarde. Que dirá Carlos Silvino que tanto corrobora os depoimentos que são diferentes um do outro? 

Em jeito de resumo deixo este quadro com a esperança que alguém me explique como é que o colectivo de Juízes pode condenar quem quer que seja com todas estas versões dos factos sem qualquer tipo de apoio ou corroboração.

 

  

Versões

  

JPL

  

  

Francisco Guerra

  

LM

  

Carlos Silvino

  

  

Dia da Semana

 

Não refere

 

Dia de semana e

Fim de semana

 

Num dia de semana

Ao Sábado e Domingo

Altura do dia

 

Não refere

 

Ao fim da tarde

 

Depois de jantar

 

De manhã

Meio de transporte

 

Carrinha Vitto

 

Renault Traffic

 

Sempre no Fiat 127

2 vezes a Vitto, uma a Traffic e outra o Fiat 127

Andar/Porta reconhecida

 

Não refere

 

Segundo andar porta escura

 

Terceiro andar

Segundo andar/porta clara

Descrição do local

 

Não deparei com... mobílias. Não tinha nada. Simplesmente o chão. Nem uma cadeira

Tinha holofotes e algum material, não sei o nome. Possivelmente são holofotes

Quarto com uma cama e um guarda-fatos e sofás na sala

Não entrou mas ouviu do hall:"Máquinas e pessoas, barulho de máquinas com rolos a rolar e pessoas

Nome da Avenida das Forças Armadas

 

Primeiro afirma desconhecer o nome da referida casa para seguidamente dizer que ouvia Francisco e Carlos Silvino dizer

 

Primeiro diz que não sabia o nome da casa para depois dizer que soube o nome durante a investigação

 

Não refere

 

Não refere

Carlos Cruz

 

Primeiro diz que nada se passou comigo para depois dizer que afinal havia sido abusado. Não referiu antes por vergonha!

 

Primeiro diz que eu lhe ligava e que chegou a lá ir ter comigo para depois negar tal versão

 

Foi convidado para ir a casa e que foi porque queria conhecer uma pessoa da TV. Posteriormente afirma que quando lá chegou ficou surpreendido por ver o Carlos Cruz

 

Depois de afirmar que me conhecia à mais de 20 anos diz que foi aqui a primeira vez que me viu

cara a cara

  

Os elevadores

 

Não refere

 

Não deu por eles. Subia e descia sempre pelas escadas.

 

Não refere

 

Segundo Carlos Silvino subiu pelas escadas e descia com Francisco Guerra no elevador.

  

Pontapé no caixote do lixo

 

 

Na Porta da frente

 

Na porta das traseiras

 

Não refere

 

Não refere

  

Como combinavam as idas?

 

Carlos Silvino e Francisco Guerra mas não sabe o que foi lá fazer.

 

Carlos Silvino combinava mas só no próprio dia. Em inquérito diz que eu lhe liguei directamente.

 

JPL disse para irmos dar uma volta. Entrou na casa para não levar porrada de JPL

 

Porque os miúdos pediram boleia

  

Quantas vezes?

 

Julgo ter ido lá duas, três vezes, se não me engano.  

 

 

Com JPL uma só vez

 

Duas

 

Três e depois quatro

  

Com quem iam? Entravam?

 

Com LM, Francisco Guerra e Carlos Silvino. Só ele e LM é que entravam.

 

Com JPL e mais dois de que não sabe o nome. Ele e Carlos Silvino não entravam.

 

Com Francisco Guerra, Carlos Silvino e JPL. Entravam os 4.

 

Com Francisco Guerra, JPL , LM e outro que não se recorda o nome. Nunca entrou.