Questões > 03 - Como explica o seu envolvimento neste processo?

Penso que tudo começou com as declarações da Drª Teresa Costa Macedo nos bastidores da SIC no programa Hora Extra. O Dr. Pedro Namora declarou em tribunal que parecia que a senhora tinha uma obsessão por mim porque só falava em mim insistentemente.

Relembro que nesta altura, a comunicação social dominava a investigação deste caso. Após o anúncio de que havia um funcionário da Casa Pia que abusava de jovens dentro da instituição impunemente há mais de 20 anos, as atenções viraram-se para os responsáveis políticos da Casa Pia.

Na altura, o que a Drª Costa Macedo transmitiu publicamente, era que estava de consciência tranquila pois teria feito tudo o que lhe era possível fazer... mas atenção porque havia uma rede que actuava dentro da CPL com gente muito poderosa.

Ela falava em mim porque o meu nome aparecia citado num relatório por um aluno de 1982 como frequentador da casa do embaixador Jorge Ritto, local onde o jovem em questão nunca esteve nem me viu pessoalmente.

Ele falou no meu nome que ficou nesse relatório (sabemos hoje, contra a vontade de pelo menos duas pessoas envolvidas na redacção desse relatório) porque um colega seu disse, enquanto viam televisão, que tinha dado uma banhada à pessoa que aparecia no visor. Uma terceira pessoa diz: - esse é o Carlos Cruz.

Falo neste pormenor porque exceptuando a emissão da Operação Pirâmide em Dezembro de 1978, e 13 edições do programa "E o Resto São Cantigas" em 1981, eu não fiz televisão entre 1975 e 1984.

O autor da afirmação da banhada veio a afirmar ao seu colega, em 2003, que tal afirmação tinha sido uma "treta". E declarou na PJ que em casa do embaixador Jorge Ritto apenas esteve com ele. Eu não conhecia o embaixador Jorge Ritto embora ele diga que me foi apresentado em Nova Iorque.

Lamento que o Processo de 82 tenha desaparecido porque se veria muito claramente que eu não fazia parte da história, nunca fui arguido e fui apenas ouvido uma vez (um dos autos que curiosamente também nunca apareceu) como testemunha para declarar se conhecia ou não o embaixador e se alguma vez tinha estado em casa dele.

E a propósito: o embaixador Jorge Ritto diz que se lembra de me ter sido apresentado em 1975 no corredor da Missão Portuguesa Junto das Nações Unidas. Embora eu não me recorde, naturalmente acredito: passavam pela Missão dezenas de pessoas: jornalistas, diplomatas, políticos, ministros e fui apresentado a alguns deles. Mas recordo-me talvez de meia dúzia porque não convivia com eles.

Agora que o meu nome dava jeito a um processo como estes, isso dava. Este tipo de processos tem sempre uma figura conhecida porque isso ajuda a mediatizar o caso e criar o clima de histeria colectiva. Esta é uma fórmula que se tem vindo a repetir em vários países. E recomendo vivamente a leitura de todo o material que aqui apresentamos porque ele ajuda muito a entender como se formam certos processos, se criam histerias colectivas, de acusam e condenam inocentes.

Quanto aos outros arguidos e ex-arguidos (com excepção do Herman) nunca os vi na minha vida nem ouvi falar deles antes deste processo: conheci-os na prisão e a D. Gertrudes Nunes no primeiro dia do debate instrutório.